quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre Vampiros e vampiros: uma história real.

Cristine dormia tranquilamente. O céu estrelado e a Lua cheia tornavam aquela noite mais bela do que era de costume. O vento soprava timidamente. A penumbra era invadida pelo sutil brilho do cosmos.

Na janela surgiu uma sombra. Ficou estática, olhando para Cristine. Olhos avermelhados, intensos, de predador. Metacarpo aproximou-se da garota tão rápido quanto um flash de luz. Estava de pé ao lado da cama. Com as pontiagudas presas preparava-se para fazer mais uma vítima. Agora! Pensou...

Porém,

Cristine abriu os olhos e ele parou o movimento.


Cristine - Puta que pariu hein! Não se pode nem dormir sossegada mais!

Metacarpo - Agora já é tarde, é o seu fim. Prepare-se! (Ainda tentava inserir temor à vítima).

C - Ah, vai se foder! Não tenho medo de vampirinho não.

M- Como não? Eu posso esmagar seu corpo como se fosse um pacote de fandangos...

C- Pois faça, não tô nem aí!

M- Já não se fazem mais donzelas em perigo como antigamente...

C- A situação não tá fácil não meu camarada.

M- E por que você não tem medo de mim?

C- Não tenho mais medo da morte. Minha vida tá uma merda!

M- O que aconteceu com você?

C- O problema é minha mãe.

M- Como assim?

C- Ela estragou minha vida.

M- Pela minha experiência, na história da humanidade os progenitores têm auxiliado as proles na estrada da vida.

C- Pois a minha mãe não.

M- O que ela fez?

C- Tudo! Eu não sou a filha que ela queria.

M- Você parece ser uma menina legal, por que não agrada sua mãe?

C- Tá, vou contar minha história, isso se não te chatear...

M- Nada mais me chateia depois de dois mil e duzentos anos.

C- Putz, mas tu é velho mesmo hein! Tá bom então, vou contar. Eu trabalhava numa farmácia como atendente e ganhava super bem. O dinheiro me possibilitou sair de casa, meu sonho. O problema é que eu tinha outro sonho: me dedicar à música, minha paixão. Acreditava que um dia conseguiria realizar tal desejo. No entanto, eu trabalhava e morava sozinha. É aí que minha mãe entra na história. Ela não gostou nada desse lance de emancipação. Viúva como é, pois meu pai morreu quando eu ainda tinha um ano, sentia-se sozinha demais. Adoentou. Acredito eu que ela quis ficar assim só pra me ferrar! Pois bem, ela começou a me ligar. Dizia que sentia minha falta e que queria que eu voltasse a morar com ela. Todo o dia era a mesma coisa, ela ligava e me implorava. Então começou a me persuadir, falando que se eu voltasse a morar lá poderia largar meu emprego e pegar um mais light. Poderia inclusive entrar num conservatório de música para me dedicar ao meu sonho! Ela me conquistou com isso. Resultado: larguei o emprego e voltei a morar aqui com ela. Não deu um mês e a coisa se modificou. Ela passou a me cobrar: Menina, você só fica o dia inteiro no computador! Arranje um emprego! Não demorou muito para ela me chamar de vagabunda: fica aí vadiando o dia inteiro! E ainda por cima perde tempo tocando violão! Por que não vai fazer algo que preste! ...

M- Realmente, triste sua história...

C- O pior é que ela não me aceita como sou! Eu sou lésbica, fumo, bebo, saio à noite...

M- Hummm, sei...Sua mãe é mais vampira do que eu.

C- Ela cuida de uma lavanderia, por isso fica boa parte do tempo fora de casa. Só que quando ela chega eu venho aqui para o quarto. A gente não aguenta olhar uma para a cara da outra!

M- Que lástima!

C- Quero muito sair daqui. Voltar a me emancipar. Quero conquistar tudo de novo através da música.

M- Você conseguirá, se acreditar nisso.

C- Eu sei.

M- Você realmente quer que a sua situação mude?

C- Sim, faria qualquer coisa...

M- Pois espere um minuto...

(Metacarpo foi para o interior da casa numa velocidade espantosa. Voltou com a mãe de Cristine pendurada em seus braços)

C- Oh!

M- Aqui está! Como estou com fome, vou ao mesmo tempo me saciar e ajudá-la.

Mãe de Cristine - Oh meu Deus! Sua vagabunda, eu sabia que você aprontaria pra cima de mim! Só faltava isso, contratar alguém pra acabar comigo!

C- Eu não o contratei mãe. Ele invadiu nossa casa.

M- Cristine, espero que agora você consiga cumprir com seus objetivos na vida.

C- O que você vai fazer com ela?

M- Você sabe...

Mãe de Cristine - O que eu fiz pra merecer isso?!!!

C- Você fez muita coisa!

M- Adeus Cristine! Nunca mais nos veremos.

C- Adeus! Obrigada!

M- Obrigado digo eu...

Metacarpo saiu pela janela com a mãe de Cristine nos braços, segurando-a como se fosse um pacote de supermercado. A mulher ainda gritou para a filha:

- Sua vagabunda!!!

C- Sim, mãe, vagabunda. Porém realizada...

Cristine voltou a dormir tranquilamente naquela bela noite.

Longe dali, Metacarpo olhava para o seu jantar.

Mãe de Cristine - Seu filho da puta!

Metacarpo - Aceite o seu fim!

Mãe de Cristine - Nnnnnnnnnnnnnããããããoooooooooooo!

O vampiro sugou todo a sangue daquela senhora e se saciou pelo menos por aquela noite. Muitas outras noites ainda viriam pela frente. Só que uma coisa é certa: Metacarpo sentia-se bem por ter ajudado alguém. Fazia dois mil e duzentos anos que não sentia mais traços de humanidade em si mesmo.


O Sol apareceu e iluminou o rosto de Cristine. A garota deu um sorriso e pensou: esse é o primeiro dia de uma nova vida.