domingo, 28 de fevereiro de 2010

Soneto do Amor Impossível

Tu sabes que dela gosto!
Tolo porém nunca fui.
Em lamentações recosto:
A paixão não se conclui!

Ela é muito! Eu sou pouco...
E sofro ainda mais!
O amor me deixa louco;
Ela é meu céu, meu cais!

Navegando em turvos mares,
Abandono minhas mágoas...
Não quero enlouquecer.

Aspirando novos ares,
atiro-me nessa águas,
Para nunca mais sofrer...













terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Desapaixonar

Nunca fui muito insistente.
Ao invés de esperar a água mole furar a pedra dura,
prefiro uma marretada.
Pago minhas contas na net, pra não enfrentar filas.
Paciência pra mim é um jogo de cartas.

Não tenho vergonha de desistir.
Não acredito que irei me arrepender por isso;
Não sou chegado a esses "conselhos de tia-avó".
Sou mais a minha honra.

E nem estou seguindo aquele ditado: "se não quer, tem quem quer"!
É mais uma escolha racional:
Eu sou feio, você é linda. Pronto! Cheguei a uma conclusão...
Difícil você me querer,
Assim como é difícil eu encontrar alguém que eu mesmo queira.

Ainda mais nessa liquefação do mundo.
E me irrita o fato de muitos e muitas se jogarem aos seus pés.
Não sou de disputar. Entrego o jogo fácil!
Nunca aposto todas minhas fichas num lance.
Se eu tenho um Flush, alguém pode ter um Full House.

Tudo é incerto, mesmo nas certezas.

Mas bastaria um sinal seu.
Por que não o fez?

Se eu tivesse um pouquinho de esperança que fosse...

Nunca adentro em selvas desconhecidas.
A escuridão da mata me assombra!
Preciso de pelo menos um mapa,
uma luz.
Um cego não atravessa a rua sem sua bengala.

E assim estou eu.

Precisava de uma orientação...
Um sinal verde que fosse.
Por natureza, só enxergo sinais vermelhos.
Não cometo infrações desse tipo.
Nem sequer sou daqueles que ultrapassam
os mais lentos.
Não porque tenho paciência, pois dessa não sou dotado:
mas porque tenho medo de bater o veículo.

Diante de tudo isso, renuncio aqui minha paixão por você.

Eu canso fácil.

E isso era previsível.

Porque, eu sou feio, você é linda.

Eu sou Deus e você uma simples mortal.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O medo de todos os dias

Para não me perder nos pensamentos, escrevo.
Pois escrever acalma, relaxa o aflito;
Supera o medo, mesmo por instantes.
E é constante. Na inconstância dos pensamentos.
Ordenadas palavras, ritmadas, cardíacas.
Mais estruturadas que os batimentos.
Sentimentos e pulsações vibram;

Escrevo porque estou só.
Sozinho ao pisar na areia todos os dias, morro.
Ao escrever, ressuscito.
E o coração aflito se rejuvenesce;
Nem que se apresse o caminhar,
Nem que se apresse o escrever,
o tempo é aliado.

Nas horas estranhas, tremo.
Porque o desconhecido assusta;
Quem não sabe o tanto que a paixão machuca?
É tão bom não gostar de ninguém,
olhar em volta e ver um mundo colorido.
Agora olho para os lados e vejo um mundo cinza,
pois estou sem você.
Só contigo enxergo felicidade,
na carícia das manhãs,
no feixe de luz,
no chacoalhar das águas,
no som dos pardais.

Por isso o medo.
Quero de volta minha felicidade solitária!
Roubaste de mim a coisa mais preciosa...
Agora jaz meu corpo sobre o catre;
E a ressurreição já não vem mais com a escrita...
Estou pobre, enfermo, triste.

O seu sorriso me nocauteia,
Seus olhos me cegam,
e sua voz me ensurdece.
Você me fez um ser infeliz...

Não sei se te amo, não sei se te odeio...


Mas se você estivesse aqui...

Mas se seu corpo e sua alma estivessem aqui comigo...

Bastaria um só beijo, um olhar apaixonado!
Seria o fim de mim mesmo

e o começo de uma história linda de amor (a dois).

(E o fim do amor solitário (de si))


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Arquiteto

Eu projeto. Visualizo, somo, meço. E Peço. Com vigor, peço que se cumpra, minha querida. Sou um funcionário assíduo, de cartão magnético, cabelos compridos e negros, fisionomia latina. Acima do peso...Atraente? Acredito que não. Bato o ponto e vejo se não me atrasei. Não, não me atrasei! Portanto é hora de medir, pedir, somar, dividir e visualizar, tudo novamente. Na mente desenho com empenho o que virá. De todas as cores são os amores que se vão. Num pensamento à jato, projeto você na minha vida. E sinto tremores, arrepios, calafrios, sabores. Lábio à lábio sinto e saboreio. Sacio o desejo do beijo. E penso, penso, penso. Construo andares acima de todos os lares. O meu amor é Babel. O meu amor é angelical. Voo contigo, Eva, no Éden imaginado. Nado por todos os mares, atravesso desertos contigo, só contigo, minha miragem. Disparamos no universo, por entre galáxias, estrelas anãs, estrelas gigantes; cruzamos o tempo, alternamos realidades. Somos um só, somos nós, ou apenas somos. Nos subdividimos em matéria negativa, positiva, neutra. E voltamos. Volto à projeção. Seu sorriso, a xícara de café. O sorvete derretido na sua boca...A dança e o bolo de avelã. O balançar da rede, a sede, a fome. O vinho e eu. O uísque e eu. Eu e você. Saboreamos as delícias de uma paixão arrebatadora. Quero te matar, quero morrer ou quero que você me mate. Sou Ulisses, Romeu, ou qualquer personagem de Shakespeare ou de Goethe. E você é a sétima camada dantesca. Rabisco paisagens, cenas, beijos, abraços. Com a régua traço uma linha; esqueço-a e faço uma curva, um círculo, um coração. E a música! Ah, a música! Uma sinfonia divina tocada por harpas celestes... O sopro do vento, o assombro das pessoas. Os transeuntes observando. O mundo pára. Apago o mundo. Nada mais existe além de nós. Só, olhando para a folha branca, amasso-a. Apago a luz. Continuo a projetar nossa vida nos meus sonhos. Então é melhor dormir, porque amanhã tenho outro dia de trabalho e essa rotina toda se reinicia...