domingo, 8 de novembro de 2009

Apenas pra falar da tristeza

Não estou bem. Lembro-me daquele momento no qual ainda era um bebezinho saindo da barriga da minha mãe. Fofinho, gordinho. Uma graça de criança. E aquele neném foi crescendo. Tornou-se um adulto com todos aqueles problemas conhecidos. E o adulto carrega dentro dele aquela criança que um dia foi. Um bebê que adorava sorrir, mesmo com a ausência de dentinhos. Quando chorava, era por fome, por dor física. Nunca o choro estava ligado ao emocional. Isso pelo menos até os oito anos, quando começou a sentir o coraçãozinho palpitar pelas pessoas que o cercavam. Agora grande, esse ser humano sente a necessidade de amor. Precisa dos outros. Não consegue viver sem ter em volta pessoas que gostem dele. No entanto, a vida teima em fazê-lo sofrer...

Ainda me lembro de quando tinha 10 anos. Apaixonei-me por uma menina. Um dia a tal mocinha apareceu na sala com o braço na tipóia. Fiquei com tanta pena, tanta. Sabe o que fiz? Cheguei em casa, após a aula, fui até a janela, levantei-a e a derrubei no meu braço... Não consegui me machucar da forma como queria. Contudo, falei para minha mãe que havia fraturado o braço. Eu queria acreditar naquilo. Não deu muito certo, pois o raio x acusou que estava tudo ok comigo.

Essa foi minha primeira decepçaõ amorosa. Não pude mostrar para meu amorzinho platônico que eu sabia a dor que ela sentia.

E tem sido assim. Hoje, com 25 anos, as coisas ainda continuam as mesmas para mim. Não há comunicação entre eu e as mulheres. Um campo de força invisível separa-me delas, impedindo-me de ser feliz, consequentemente.

Deus sabe quantas vezes chorei por uma mulher. Não tenho vergonha de derramar lágrimas. Foram muitas paixões recheadas de decepção. Projeções de felicidade que se desbotaram, ficaram foscas e sumiram. O colorido onírico sempre se transforma num preto e branco tenebroso.

E foram tantas vezes. Tentativas frustradas. Falsas tentativas... Eu sempre as quero e elas não me querem. Apaixono-me com tanta facilidade. Basta dizer que me acha legal e logo vejo a pessoa com outros olhos. No fim do dia sempre sobra meu quarto e eu mesmo preso nele. Minha prisão cotidiana. E a pior de todas, pois é em liberdade. Fico aqui sozinho lamentando. Fico também imaginando como seria uma vida mais feliz. E essa vida idealizada sempre está relacionada com a menina dos meus sonhos. A princesa encantada que me fará o cara mais feliz de todo o Universo. A criança dentro de mim sente necessidade dessa projeção. Ela quer se amamentar na felicidade. Se deliciar nos seios da esperança.

E ela olha para as moças nas ruas e vê a possibilidade. Porém, as moças das ruas não enxergam a criança. E ela chora. Em prantos clama por consolo. Este sempre vem, de algum lado. O choro passa, nem que seja depois de criar um riacho.

A criança olha as estrelas, olha o Sol, a Lua, o oceano. Tudo é cenário romântico. Ela se vê retratada naquelas pinturas famosas, como se o dedo de Deus a tivesse desenhado em cenas perfeitas. No entanto, logo tudo se desfaz e retorna a solidão. E mais tentativas frustradas. Ela implora para as moças: me ame! Por favor, me ame!

E as moças passam velozmente pelas ruas da nostalgia irreal. Não se dão ao trabalho de pegar o neném no colo ou mirar naqueles olhinhos brilhantes. E ele fica ali, chorando e se derretendo. Parece que o bebê é feito de açucar pra se derreter assim. E se afoga no Oceano da amargura. Sente-se sufocando quase até a morte. É uma sensação de querer gritar sem poder. É um grito interno que parece ser disparado quase como uma bala; vai ricocheteando nos órgãos e acelera o coração. E começa a disputa entre cérebro e coração. Os dois a iniciam na balança...Forma-se aquele equilíbrio inconstante. Após um tempo, cérebro e coração passam a disputar através do cabo-de-guerra. Puxam para um lado e para o outro. No fim, acabam fazendo algum tipo de acordo, quase sempre após a corda arrebentar.

Só que uma coisa é certa: a tristeza sempre prevalece. Pois a criança nunca pára de chorar!

E aquele sentimento engloba-se no adulto, quase como uma simbiose. Ele passa também a chorar. Novamente encontra-se no seu quarto aos prantos. Outra moça o deixou assim. O rapaz olha no espelho e se pergunta: o que tenho de tão errado? Fica tentando descobrir o que tem na sua personalidade que afasta tanto as pessoas, principalmente as meninas. Ele não sabe. Com certeza deve ser algo muito grave e imperceptível. Ou pode não ser nada; quem sabe apenas destino. Quando se percebe destinado a sofrer eternamente por amor, o adulto, (ou melhor, eu), fica tão triste quanto a criança. E as lágrimas retornam. Ele vai até o banheiro e as enxuga. Mas elas não cessam. O jeito é entregar-se a elas. Deitar e esperar que tudo aquilo passe.

- Oi, eu sou legal! Diz ele. As moças parecem não acreditar.
- Só quero te abraçar, beijar, fazer carinho e morrer abraçado contigo! Pensa, mas a moça o ignora.

- Vamos ter filhos, uma família feliz. Cozinho pra você! Limpo a casa, passo, lavo roupa, faço compras! Ele ainda insiste, mas percebe-se sozinho, numa sala vazia, falando com as paredes.

Avista a primeira que aparece, após horas de espera na rua das ilusões perdidas. Aproxima-se dela e se ajoelha. Implora uma chance. A moça o empurra, fazendo-o chegar ao chão. E ela desaparece. Ele fica arrasado. No chão, mais lágrimas o afogam. No entanto, não morre. Não consegue acabar com o sofrimento dessa maneira. O afogamento é permanente! Ele se zanga. Bate a cabeça nas paredes da sala vazia! Sangra, chora mais, sente o coração pulsando forte. Os dentes estão cerrados. Puxa os cabelos e os arranca gritando internamente. A voz não sai. Quando sai, é tão baixa que ninguém consegue ouvir. A respiração não vem. Continua aquele sufocamente. Ele aperta sua própria garganta, mas não surte efeito nenhum.

E olha em volta e vê vários casais felizes. Muitos beijos estalados. Pessoas fazendo amor nos corredores dos prédios. Nos elevadores. Casais na roda gigante. Maçãs do amor, algodão doce e beijos. Balões. Festas. Ônibus lutados de moças e rapazes que se amassam. Hotéis, motéis, carros lotados de casais apaixonados. Estão todos dispostos em fila, marchando contra ele. Está só no campo de batalha. Apesar de ser um exército de um homem só, nunca se vence uma guerra lutando sozinho... Todos aqueles casais apontam suas armas. O rapaz só tem uma lança para se defender, e ainda está quebrada. Antes dos tiros chegarem, perfura seu próprio peito. Mais uma tentativa frustrada de acabar com seu sofrimento. Quando vê, está novamente no seu quarto.
Agora percebe que está de frente para o computador relatando tudo isso no seu blog. Com os olhos cheios de lágrimas, pede socorro. E as lágrimas escorrem e chegam nos seus dedos. Atravessam a tela do laptop e atingem o texto em si. E surge um epitáfio:

Aquele que sempre quis amar mas que nunca foi amado. Lê.

No fim do post, ainda deixa mais um pedido, o qual foi escrito em conjunto com a criança dentro dele:

Por favor, me ame. E se não se importar com isso, que pelo menos não me faça sofrer mais do que já sofri.

Se sentiu algo com esse texto, que as palavras aqui descritas façam com que reflita sobre suas atitudes na vida. E nunca perca as oportunidades que lhe surgirem.

Aconteça o que acontecer, nunca deixe de amar a si mesmo e as pessoas que o cercam.

Eu cometi o erro de não me amar o suficiente. E talvez por isso ninguém ainda me ame do jeito que eu gostaria.

Peço perdão a você por isso.

Com amor,

Lê.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Boy: resposta à dama da noite

Olho pra você sentada aí sozinha e me dá certa pena. Minha querida coroa cheia dos preconceitos e infeliz, você acha realmente que suas palavras me afetam? Tenho cabelo arrepiadinho, sou boy sim, tenho meu jeito até mesmo juvenil nas minhas atitudes... Isso não quer dizer nada! Não pode querer me eliminar da face da Terra por coisas tão fúteis. Por acaso me conhece? Sabe alguma coisa sobre minha trajetória de vida? Conheceu meus pais? Você, minha querida idosa, é peça de museu velho. Acha ainda que vai aparecer um Humphrey Bogard nesse lugar aqui? Olhe à sua volta e veja a nova juventude que está surgindo. Somos todos de cabelo arrepiadinho. Somos mais do que a geração coca-cola. Somos a geração Twitter, Facebook, Orkut, Myspace, Fotolog, MTV, Emocore, Balada, Tubão. No entanto, queremos a mesma coisa que você, minha querida senhora: queremos ser felizes. Acha que um cara como eu não tem capacidade de amar? Pois digo, já amei, amo, do meu jeito, é claro. E nem vou responder acerca dessa história de que eu quero é dar o meu cu. E se eu quisesse dar, qual o problema? Você não tem o direito de dizer aos outros quais são as opções sexuais permitidas para cada um. Chupar uma bucetinha? Já cansei de fazer. Ao contrário de você, não idolatro isso. Talvez você faça do sexo oral um ídolo por não tê-lo praticado ultimamente. Meus amigos gostam de brincar que pessoas como você estão cheias de teias de aranha nas partes íntimas.
Na verdade tenho pena de você com todo esse mau-humor, essa tpm ambulante. Minha cara dama, você é daquelas pessoas que vão no supermercado e ficam com a cara amarrada, reclamando dos preços, fazendo os repositores (boys como eu) carregarem caixas de leite e fardos de farinha; você os faz colocar no seu carrinho e aí diz um obrigado seco, como se o pobre coitado fosse um escravo ou alguém subalterno. Você é daquelas senhoras que entram no ônibus e ficam prestando atenção nas conversas das pessoas pra chegar em casa e contar para a vizinha "como essa geração está perdida". Enquanto eu me divirto com minha galera, você fica no seu apartamento alisando seu gato preto e esnobe. Ou dando ração para seu cachorrinho com cara de rato. Realmente, minha senhora, realmente sinto pena de você. Acredito que seja daquelas pessoas pessimistas, daquelas que olham para a luz do sol e reclamam do calor; ou reclamam da chuva; ou do frio. Você não se importaria de usar casaco de pele, com certeza! Pois quer ser a Ingrid Bergman! Apesar de ser vegetariana. Porque ser vegetariano é chique. Quando passa por alguém que considera suspeito na rua, você logo desvia de caminho. Tem medo das pessoas! Tem medo de viver!!! Guarda sua caixinha de jóias como se fosse a urna sagrada do Tutancâmon! Não, eu não quero suas pérolas, pode ficar tranquila. Nem ligo para essas jóias. Dou mais valor para meus piercings e para minhas tatuagens. Talvez para o meu cabelo arrepiadinho... Que tal jogar um video-game comigo? Agora eu comprei um Nintendo Wii. Ah, esqueci, você não gosta de tecnologia! Não suporta esse pessoal que perde horas na frente de algum aparelho eletrônico. Tudo bem, é só deixar de perder sua meia hora diária passando laquê no cabelo. Vamos lá, vai ser divertido, principalmente o boxe. Você sua e fica em forma. Putz, esqueci que você não gosta de suar! Não vai querer fazer alguma caminhada, acampar, escalar montanhas... Se fizer isso, vai quebrar o salto, a unha. Não, não vou deixar tal tragédia acontecer contigo. Afinal, nem a louça você lava, com medo de deixar as mãos enrrugadas. Porque as rugas se espalham pelo corpo. Olha os pés de galinha no seu rosto! Se você não ficasse tanto tempo fazendo cara de quem não gostou, talvez não as tivesse...E, além disso, você tem empregada. Os R$ 300,00 que paga todo mês para ela precisam ser bem utilizados. Pois tempo é dinheiro, e dinheiro é vida. Ademais, você precisa ir no teatro, na ópera. Precisa encontrar mais pessoas ilustres como você, com laquê no cabelo e vestidos cor-de-abóbora-com-purpurina. Purpurina! Você é uma purpurina ambulante. Agora achei a palavra certa para lhe definir. Já consigo imaginá-la nas festas de fim de ano, solitária no seu quarto, lembrando dos tempos em que era feliz. Guardou uma espumante especial para aquele dia. Talvez sua amiga de Brasília a venha visitar no Natal. Quem sabe aquela ceia ainda possa ter sentido, caso tenha alguém para apreciá-la com a sua pessoa. Se não for no Natal, pode ser no Ano Novo. No carnaval. Na páscoa. E tudo isso pode passar e você pode ainda continuar sozinha, esperando seu Humphrey Bogard aparecer na porta desse pub. Se ele não aparecer, não seja tímida, pois o boyzinho de cabelo arrepiadinho não vai ignorá-la, caso puxe papo com ele. O boy aqui tem bom coração e sente pena de você com sua solidão. Agora, no momento, minha senhora, vou deixá-la aí sentada e vou curtir a balada com minha galera; talvez dar uns catos na minha gata. Tomar meu tubão e postar tudo no orkut. Ah, sim, claro, relatarei isso tudo no Twitter. Aliás, você tem Twitter? Tá, ok, vou deixar de fazer essas perguntas bestas. Agora vou mesmo. E caso queira se matar, prefira afogamento. Porque gás é perigoso para as outras pessoas. E, se pular do prédio, você pode acabar caindo em cima de alguém. Isso tudo é muito arriscado. Faça igual aquela moça, aquela escritora ... como é o nome dela mesmo? Virgínia alguma coisa. Será até mais chique pra você morrer assim... E se tiver um derrame ou infarto, que seja aqui por perto. O boyzinho pode ligar para a ambulância ou até mesmo levá-la de carro ao hospital. Não deixaria de prestar socorro a ninguém, nem mesmo a você que é tão, tão...Tá, não vou mais ofendê-la. Não mais do que você fez a mim. E se a gente não se ver, uma boa noite! Seja feliz!

Boyzinho

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Olympos Bar

A neblina trazia-me certa paz. Meia noite era um horário que eu realmente gostava. Ouvi os sinos da Igreja e atravessei a praça. Virei na rua da esquerda. Era um declive. A placa luminosa do local chamava atenção: Olympos Bar.

Garçom - Boa noite!

Leandro - Boa noite! Desce um Highland Park, por favor!

Garçom - É pra já!

Fez sinal com o dedo indicador, perguntando se eu queria uma pedra de gelo. Balancei a cabeça e pisquei, confirmando.

Olhei em volta e do meu lado dois sujeitos conversavam. Não hesitei, abri meus ouvidos para escutar.

Sujeito do terno Preto - Pois é isso, não sei o que faço com o Gabriel!

Sujeito do terno Branco - Ele logo aceita o destino dele. (fez isso e saboreou seu vinho tinto uruguaio, provavelmente um Tannat).

Os dois perceberam que eu ouvia o papo e me cumprimentaram.

Sujeito do terno Preto e Sujeito do terno Branco - Boa noite!

Leandro - Boa noite!

Sujeito do terno Branco - Você é o Leandro, não é? É um exemplo de vida. Muita gente comenta sobre você.

Leandro - Como sabe?

Jesus - Pode me chamar de Jesus. O cordeiro de Deus, seu criador. Prazer!

Olhei um pouco espantado.

Lúcifer - E eu sou Lux, ou Lúcifer. O diabo, cramunhão, entre outros nomes populares. Meu pessoal também tem falado muito de você...

Leandro - Poxa, que honra encontrar vocês dois! O que me contam?

Jesus - Estava aqui pensando com o Lulu sobre nosso camarada Gabriel. Ele anda meio perturbado. Um dia se diz anjo do bem, no outro anjo do mal. Não sabe de qual lado quer ficar.

Lúcifer - Eu queria muito que ele ficasse do meu lado, mas o Gabi vive querendo praticar boas ações...

Leandro - Entendo. Mas todo mundo é assim, não? Todos estão divididos entre o bem e o mal.

Jesus - Isso é verdade! Principalmente com seres humanos. A gente que é celestial ainda tem noção das coisas, mas vocês estão sempre perdidos.

Nisso aparece na porta uma figura curiosa. Bigodão saliente, meia careca, olhos nervosos.

Lúcifer - Nietzsche!!

Nietzsche - Olá! Lulu, Emanuel! Quanto tempo!

Jesus - Pois é! A gente precisa botar o papo em dia. Como andam as coisas na nova dimensão?

Nietzsche - Perfeitas! Agora estou trabalhando na análise de textos filosóficos dos reptilianos. Voltaire tem me ajudado muito. O problema é aguentar a chatice do Rousseau, com seus dramas existenciais. Se não fosse o Diderot pra alegrar todo mundo, não sei o que seria do nosso grupo.

Lúcifer - Interessante... Eles deixaram saudade.

Nietzsche virou-se para mim

- Boa noite!

Leandro - Boa noite! Eu sou o Leandro.

Nietzsche - Ah, já ouvi falar de você! Como andam as coisas?

Leandro - As mesmas de sempre. Vivendo, enquanto houver vida que valha a pena.

Nietzsche - Sei como é! Já passei por essa fase. Você ainda é jovem, vai saber como enfrentar isso.

De repente apareceram mais três sujeitos. Sorriram e se aproximaram da gente.

Jesus - Marx, Maomé, Buda!

Marx - Olá senhores!

Maomé - Noite linda essa.

Buda - E não passaram da 1h da manhã ainda...

Fiquei apenas observando o papo daqueles ilustres senhores.

Jesus - Estamos aqui faz algum tempo falando abobrinha. E vocês, o que têm feito?

Marx - Eu e Engels temos trabalhado no departamento de anjos anticapitalistas. Recrutando voluntários e tal.

Lúcifer - Ah, eu sei! Eles vêm pra Terra de vez em quando. Dão trabalho pra mim...

Marx - Estou sabendo disso! hehe! Mas é nosso trabalho.

Lúcifer - Claro!

Buda - Eu tenho me reunido com Gandhi. A gente tá pensando em dar aula de interiorização para o povo da realidade alternativa.

Jesus - Hummmm... O legal de lá é que tudo é imprevisível, até pra mim!

Buda - Verdade!

Jesus - E você Maomé, como está?

Maomé - Tenho visitado alguns planetas na borda do Universo. Gosto de conhecer outras culturas. Meu cavalo adora fazer viagens longas... Voar rápido pra ele é um grande prazer.

Lúcifer - Alguém aqui sabe por onde anda Zeus?

Jesus - Você não ficou sabendo que ele tem criado outros planetas por aí?

Lúcifer - Não fiquei sabendo.

Jesus - É, ele adora bancar o arquiteto de universos.

Lúcifer - Zezé é uma figura.

Eu estava maravilhado com aquelas conversas. Nunca tinha sentado numa mesa com pessoas tão interessantes. Nisso, Nietzsche chamou o garçom. Ele se aproximou da mesa.

Nietzsche - Qual banda vai tocar hoje?

Garçom - É um trio muito especial. Vocês já ouviram falar do Nevermind the Sun?

Jesus - Adoro! Eles vão começar a tocar a que horas?

Garçom - Agora mesmo!

Olhei para o palco e vi se ajeitarem nele Kurt Cobain, John Lennon e Elvis Presley.

Aquela noite foi inesquecível. A neblina ficou ainda mais forte no resto da madrugada. Às cinco da manhã, me despedi do pessoal que estava na mesa, paguei a conta, arrumei meu casaco e saí.

Ao dobrar a rua, avistei um gato preto com olhos fumegantes. Olhei pra ele e sorri. Ele retribuiu o gesto. Continuei até o fim da rua e sumi na neblina.