terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mimo, um gato esperto

Tinha 8 anos quando conheci o Mimo. Sabe aquele animal que parece um ser humano? Inteligentíssimo! Se é que podemos considerar todos os seres humanos de inteligentes. Porém, o bichano era doido. Vivia subindo em uma das árvores que havia no nosso terreno. Era como um ninja. Na velocidade quase da luz (que exagero) ele chegava lá no topo e ficava onipotente observando a rua. Quem sabe aparecesse um passarinho por ali? Mimo era um siamês bem gordinho. Eu gostava daquela cor dos pelos dele. Parecia um gato de desenho animado. Era bem caricatural. E, como todo o gato, tinha aquele ar de superioridade. Mimo era de uma nobreza esnobe; um fidalgo preso em pele animal. Faltava só a coroa pra torná-lo um verdadeiro monarca. 

Como era esperto aquele bicho! Ele aprontava as traquinagens e fazia de conta que não era com ele. Não foram uma ou duas vezes que ele roubou algum pedaço de carne da panela. Minha mãe ia com tudo de cabo de vassoura na mão. Às vezes quase o acertava, mas ele era extremamente rápido. Ou a minha mãe que não queria machucá-lo. Ela queria dar a entender que não gostava dele, não gostava dos pelos que ele deixava pela casa, do cocô que ele deixava (sempre no quintal, pois ele era muito higiênico). Xixi também, fazia só no quintal. Eu acho que aquele gato sabia que não podia fazer essas coisas dentro de casa! Acredito que com um pouco de treinamento ele poderia até mesmo se limpar... 

Mimo tinha um sexto sentido super aguçado. Ele previa as coisas de uma maneira que até hoje não entendo. Se adiantava em tudo de forma surpreendente. Adivinhava quando a gente ia dar comida pra ele. Se um cachorro invadisse nosso quintal, lá estava ele, de antemão, no topo daquela árvore, sentadinho no seu trono. Nada lhe escapava. Se a gente estivesse achando graça dele, fazendo cara de "óin, que bonitinho", logo ele vinha se esfregar nas nossas pernas, sentar no colo. Era super carinhoso, até anormal para um gato. Outra coisa incrível é que ele sabia também quando estávamos falando mal dele! Vou contar um fato que aconteceu para vocês entenderem:

Meu pai era e ainda é um exímio jogador, assim como eu. Ele disputava torneios de baralho, sinuca, pebolim, dominó, e assim por diante. Tinha diversos troféus que ficavam em cima de uma cristaleira. Não é que num belo dia o nosso querido Mimo foi se engraçar com as estatuazinhas? Ficou lá, brincando, dando soquinhos nelas, empurrando. E meu pai nem percebeu, pois estava no sofá vendo algum programa bobo. De repente, não sei como, o gato derrubou um dos troféus. Adivinha onde foi que ele derrubou? Bem na careca do meu pai! Aquela mãozinha da estátua fincou na cabeça dele e ele deu um grito alto! Claro que Mimo já estava longe antes mesmo de meu pai olhar pra ele. O gato sumiu uma semana, mais ou menos, depois do incidente. 

Só que meu pai não esqueceu o fato, até porque ainda tinha a marca do troféu na careca. No entanto, não fez nada contra o Mimo. Apenas reclamou dele. Aí que vem o lance interessante: quando a gente reclamava dele, ele abaixava as orelhas! Parecia que ele ouvia a conversa. No primeiro "Esse gato é um.." ele já tava abaixando as orelhinhas e saindo de fininho. 

Esse era o meu magnífico gato. Agora vem a parte trágica da história.

Mimo era arteiro, já falei. Acontece que ele não fazia suas estripulias apenas na minha casa. Ele andava pela vizinhança fazendo arte. As pessoas vinham contar pra gente sobre as tentativas dele de roubar comida, ou quando tinha caçado um rato, e até mesmo quando tentava pegar algum passarinho engaiolado. E a maioria dos vizinhos gostava dele.

Porém, alguém não gostou. Num dia tenso, muito tenso, quando eu tinha meus 12 anos, por aí, Mimo apareceu deformado. Haviam jogado água fervente nele. Coitado. O rosto dele, as patas traseiras, uma parte das costas, tudo estava queimado. Ainda bem que ele não ficou cego. Porém, dava pra ver que aquilo doía. E doeu mais ainda em mim. Meu gato nunca mais foi o mesmo depois daquilo. Perdeu a agilidade, não subiu mais no seu trono, passou a não ter mais tanta coragem. Parecia estar traumatizado. Passou a ficar sempre quietinho no seu canto, triste. Eu fazia carinho nele e ele retribuía. Sabia que podia contar comigo. Ele podia ser considerado um gato feio para os outros, pois estava deformado, mas pra mim ele ainda era o mesmo Mimo, lindo e inteligente. Meu querido siamês.

Ainda não chegou o momento mais trágico.

Mimo morreu. Talvez tenha acontecido num dia em que ele criou coragem e tentou novamente ser o gato esperto de antes. Acabou entrando numa casa e não saindo mais de lá. Havia dois cachorros ferozes nela. Não sei ao certo se eram da raça doberman, mas é isso que me vem à mente. Só sei que os cães o estraçalharam. Quando me contaram o fato, chorei, ainda que escondido. Meninos não choram, não é? Imagine um homem de 13 anos! Nem quis buscar os restos mortais dele. Não o enterrei. Não tive coragem. Preferia pensar que ele havia sumido. Que foi conhecer o mundo. Foi caçar os ratos de algum país distante. Quem sabe entrou num navio de cruzeiro? Poderia estar na China. Nos Estados Unidos. Ou teria aprendido a voar e agora estava lá no alto, sentadinho no seu trono nos observando, sempre com aquele ar esnobe. 


Até hoje quando vejo um gato eu lembro do Mimo. Quero um dia encontrá-lo, se for possível. Acredito que os gatos devem ter alma. E ele deve estar em algum lugar por aí roubando comida de algum anjo.

Mimo, aonde você estiver, esse texto foi feito pra você. Um dos animais que mais amei na vida e que ainda amo. Um amigo no qual eu sempre pude confiar. 

Um ser especial. 

Um gato voador.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Poema de amor n.° 10000

Os amores que não tive sempre se manifestam.
Nos soluços, à noite, no choro solitário.
Ela estará com outro, e ela, uma outra, também.
Lá fora, andorinhas fazem seu último voo, talvez.
Estrelas cadentes cruzam a parte obscura da Lua.
E você, especialmente você, estará com outro.
Fiz de tudo para conquistá-la. Não tive mais forças para continuar.
E esse uísque continua cada vez mais amargo.
E meu coração continua cada vez mais amargo.
E os dias passam, não tenho você.
Rugas. Barbas e cabelos brancos; olhos tristes.
Cada segundo, cada batida do coração me distancia de mim mesmo.
E as horas me fazem passear nesse limbo como se estivesse montado num carrossel.
E você está com outro. Você está feliz. Eu deveria estar feliz.
A Lua lá fora sorri. As nuvens cantam uma melodia tenebrosa.
As estrelas mudam de lugar.
Eu queria estar lá fora, livre.
Queria ser um nada.
Queria ser um tudo.
Já que não a tenho, que ninguém a tivesse.
Não a quero morta, somente gostaria que sumisse.
Pelo menos que sumisse dos meus pensamentos.
Que parasse de caminhar comigo todos os dias.
Que parasse de olhar nos meus olhos quando observo o espelho.
Que saísse das minhas retinas.
Que abandonasse meus sonhos.
Que eu não a visse nos braços de outro, nua.
Totalmente entregue a outro, feliz.
Não quero mais ver esse sorriso.
Não quero lamentar, não quero chorar.
Ainda se eu me afogasse nesse riacho de lágrimas.
Ainda se isso não doesse tanto.
Lá fora há somente pessoas felizes. E eu aqui.
Admiro a Lua. Apesar de sozinha, é brilhante.
E se nessa minha vida eu tivesse mais brilho do que o existente em seus olhos.
Se eu me amasse mais do que te amei um dia.
Se a vida fosse mais justa.
Se essas palavras não me ferissem como uma corda no meu próprio pescoço.
Ainda assim, gostaria de te amar mais uma vez, nem que fosse em outra vida.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma noite de tango em Calle Florida

Hola, que tal?
Yo conozco su Carnaval.
En la calle, um tango.
Um rango. Um Mc, Hermanos!
Dá pano pra manga.
Um tango bem dançado ou samba.
Na noite argentina, luzes confusas:
Con-fusos-horários.
Na pista, artistas, cabras guapos.
Nas esquinas, seres em trapos.
É festa, é arte. É quase marte.
Outro mundo. Florida Florida.
Cores e sumos de fruta.
Insólita solidão gostosa.
Cuanto custa?
solamente?
Me gusta! ahora un vino fino!
En la iglesia, un seno.
Um aceno.
Adíos hermanita!
Hasta la vista!

Amor de verdade

Amor na lápide, na tumba ou fossa;
atroz, covarde, nunca renasce.

Amor de praxe.

amor e ódio, sem sal, insossa!
Mas há ardor, ferida coça.

há o encaixe.

Quando, porém, lhe bate a face
quando, porém, pisa à poça
do amor sincero, há o enlace.


E A FELICIDADE nasce.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Capitão-salva-putas Vs. O atormentado pela sogra onírica.

Uma Zona "marromenos" chique (como em boa parte dos meus contos)...

- Me vê mais uma dose de Jack Daniel's, por favor! - disse o homem de aproximadamente 40 anos, barba branca por fazer, sobrancelhas grossas e vestido com um terno surrado.
- É pra já, senhor! - disse o garçom.
- Cowboy!
- Ok.
- Eu também sou acostumado a tomar Jack assim... - Disse o sujeito magro, por volta de 30 anos, de nariz pontudo e olhos de suricate.
- Tem bom gosto!
- Isso aí!
- Diego, prazer! - Disse o magricelo.
- Tom! - respondeu o de barba, fingindo certa virilidade à lá filmes western.
Diego - E o que te faz se entregar ao uísque hoje?
Tom - Minha sogra.
D - Como assim?
T - Eu tenho tido uns sonhos esquisitos com ela...
D - Vixe! Que tipo de sonhos?
T - Os mais loucos que você possa imaginar.
D - Me dê uns exemplos então...
T - Num deles eu voava como um passarinho em direção ao horizonte infinito, quando fui atingido por uma chuva de meteoritos que tinham, cada qual, o formato de um dedo do meio. Como se todos os meteoritos estivessem me mandando se fuder. Entendeu?
D - Que doido! - Disse Diego, rindo. - E aonde entra a sua sogra nesse sonho?
T - Eu caí direto numa cratera que me levou para o inferno. E adivinha aonde fui parar? No colo do capeta! Agora pensa em quem era o capeta?
D - Sua sogra?
T - Exato! Com chifres gigantescos e sentada no trono dourado.
D - Puta que pariu!
T - E quando ela sorriu pra mim o pesadelo acabou.
D - Menos mal. Imagina se isso tivesse continuação...
T - Só sei que ando atormentado. Eu acho que a véia é "meia" macumbeira.
D - Sai pra lá!
T - Ela deve ter feito algum trabalho contra mim, certeza!
D - Ela mora com vocês ?
T - Deus me livre! Quero aquela coisa desdentada longe de mim.
D - Que barra... Ela enche muito o seu saco?
T - A mulher acha que eu não sirvo pra filha dela. Sempre tentou nos separar. Só porque eu sou aposentado por invalidez...
D - Desculpa perguntar cara, mas como assim aposentado por invalidez?
T - Eu era professor. Os filhos da puta dos alunos da sexta série acabaram com minha saúde mental. Tomo remédios de tarja preta e tudo mais... O psiquiatra tem medo que eu me suicide ou mate alguém. Ele acha que sou um pouco psicopata... Essas coisas todas.
D - Caralho! E você pode tomar uísque assim?
T - Bem, poder não posso... Mas quem que aguenta ficar sem tomar umas de vez em quando?
D - Tá certo...
T - E você, que que faz por essas bandas?
D - Vou falar uma coisa meio "boiolística". Tô apaixonado...
T - Que "boiolística" nada, cara! Eu também já passei por essas coisas.
D - O meu problema é maior do que você imagina.
T - Então me conta, uai!
D - Tô apaixonado por uma puta daqui...
T - Que merda hein! Desculpa falar meu amigo, mas você tá fudido...
D - Eu sei. Mas cara, a mulher me pegou de jeito.
T - Hummm...
D - Não sou de pegar puta, sabe. Só que tava super necessitado e fiquei sabendo dessa zona aqui através de um amigo. Vim pra cá meio que sem saber se teria coragem. Então apareceu essa mulher. Nunca vi pessoa mais atenciosa. Me tratou super bem... Te falar cara, nem parece puta. Eu nem gosto de lembrar que ela é... Fico me enganando, sabe...
T - E de repente se apaixonou?
D - É. A gente transou na primeira vez. Ela me deixou fazer tudo... Só que ela era carinhosa. Foi doido. Parecia que eu tava com o amor da minha vida, sabe? A melhor experiência que eu já tive na cama. Ela sabia fazer bem a coisa.
T - Deixou fazer tudo, tudo? - disse, enfatizando o último "tudo".
D - Tudo... Isso aí...
T - Entendo.
D - E me cobrou a metade do preço na primeira vez. Na segunda ela nem me cobrou mais.
T - Você fica com ela de graça?
D - Sim! Venho aqui três vezes por semana... Ela é foda cara! Quero tirá-la dessa vida de puta!
T - Espero que você consiga!
D - Valeu pelo apoio!
T - Ela já está aí?
D - Vai chegar daqui a pouco... Tá quase na hora.
T - Aham...

(15 minutos depois... )

D - Olha lá ela...
T - O quê? - disse Tom, paralisado e com um olhar que aparentava um "estado de choque".
D - Que foi?
T - SANDRA?
D - Você a conhece? - Disse Diego, já bem aterrorizado por conta da reação de Tom.
T - Ela é minha mulher, seu filho da puta!
D - COMO?
Tom correu na direção de Sandra e já fui a puxando pelos cabelos. A mulher não teve tempo de reagir.
T - Sua vagabunda! O que você tá fazendo aqui? Esse é o horário de você ir para o curso de inglês!
Sandra - Ai amor, solta meu cabelo, eu explico... - Disse, já chorando.
T - Explica o caralho! Sua puta! Agora eu entendi tudo!
Sandra - Ai, calma!
T - Calma? Você tá pedindo calma pra mim? Calma você vai ver agora...
Tom pegou Sandra pela cabeça e bateu seu crânio contra a parede... Todo mundo na zona assistia a cena. Ninguém quis se intrometer, talvez por medo. As garotas de programa sumiram rapidamente. Somente ficaram no local os curiosos e Diego. Este tremia. Não sabia o que fazer. Viu Tom matar Sandra em segundos. Quando o marido traído abandonou o corpo da mulher no chão, logo olhou na direção de Diego.
D - Eu não fiz nada cara... Eu não sabia de nada!

Tom caminhava lentamente na direção dele com olhos diabólicos e flamejantes.
D - Me perdoa, por favor!
Tom chegou ao lado dele e se sentou no mesmo lugar que antes se encontrava.
T - Vaza! - Disse, sem olhar para Diego e admirando o copo de uísque.
Diego saiu correndo dali sem nem olhar pra trás. Algumas pessoas seriam capazes de dizer que o sujeito poderia facilmente disputar uma prova de 100 metros rasos.
Tom continuou saboreando seu Jack Daniel's. Já estava sozinho no estabelecimento. Ao longe dava pra ouvir a sirene da polícia. De repente o homem deu um sorrisinho maléfico com o canto da boca. Tomou o resto do uísque num gole só e disse baixinho pra ele mesmo:

- Aquela véia filha da puta...
Lá fora, um carro da polícia chegava. A algumas quadras daquele lugar, um homem corria como se não houvesse amanhã. O suor se misturava com as gotas da chuva repentina.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amor, ENEM e o Mundo Digital...

João - Garçom, vê uma porção de batata?

Garçom - Com bacon?

João - Pode ser...

Lucas - João, você não era vegetariano?

João - Eu tentei ser por causa da Jéssica. Sabe como é né, agradar e tudo mais...

Lucas - Mas você era chato pra caralho! Não podia me ver comendo carne que já chegava falando dos malefícios, que eu ia morrer mais cedo, que teria um tumor nas bolas, no cu, etc.

João - Foi mal cara. É coisa de ator, tá ligado? Tem que incorporar o personagem, senão não dá certo. É coisa de acreditar na própria mentira.

Lucas - É um boiola mesmo! E a Jéssica, te largou mesmo?

João - Aquela filha da puta me trocou por outra menina.

Lucas - Disso eu não sabia! hahaha! Me conta como foi.

João - Sabe que eu e a Jéssica éramos fissurados por coisas eletrônicas, não é? Vivíamos no computador. A gente tava sempre no twitter, no facebook, no orkut, no myspace, no msn... Sempre baixando alguma coisa. Namorávamos muito mais online do que offline. A gente brigava quando um roubava a colheita feliz um do outro! Nosso programa preferido do sábado era baixar algum episódio de algum seriado de menina, tipo Gossip Girl, e ficar assistindo e falando merda no msn.

Lucas - Disso tudo eu sei...

João - Pois é. Sem contar que passávamos horas jogando videogame. Ela gostava de Wii Sports e eu de Zelda.

Lucas - Também lembro disso tudo. Você ainda é assim, um quase nerd.

João - Esse é o problema. Quando não estávamos juntos, nem mesmo online, a gente tava no celular conversando ou trocando mensagens. Nossa vida juntos só era possível por conta dos aparelhos eletrônicos!

Lucas - E isso é ruim?

João - Foi determinante na nossa separação... Jéssica começou a sair com uma amiga que era toda tatuada. Ainda por cima era roqueira e motoqueira. Se chama Luana...

Lucas - Tô até imaginando o que aconteceu...

João - A tal da Luana começou a levar a Jéssica em vários lugares que ela nunca tinha ido. Iam até montanhas, parques com grandes lagos, pontos turísticos, shows de rock, raves. Luana dizia que iria ensinar a Jéssica a viver. E não deu outra. Duas gatas correndo em alta velocidade numa moto em pleno pôr-do-sol... Cabelos jogados ao vento. Não tinha como competir com isso. Não tinha post no twitter que a trouxesse de volta para o meu lado. Reconheço a derrota. Reconheço também que foi tudo culpa da minha dependência com relação aos aparelhos eletrônicos e internet. Se não fosse isso, talvez ela não tivesse me largado pra ficar com a motoqueira.

Lucas - Triste, muito triste...

João - É por isso que eu vou comer carne! Que venha o bacon, a costela, a maminha, o pernil. Venham gaúchos com seus churrascos pingando sangue! Quero mais é devorar tudo pra contornar minha desilusão!

Lucas - Eu faria o mesmo, amigo!

João - Valeu pela compreensão. E você, cara, o que conta? Como foi no ENEM?

Lucas - Não fui.

João - Como assim?

Lucas - Foi uma merda! Estudei o ano inteiro pra essa porra, mas chegou na hora e tava tudo errado!

João - Pô, mas dizem que essa prova é super controlada e tals...

Lucas - Dizem, mas não é verdade! Pra começar, enfrentei um puta congestionamento pra chegar no local da prova. Quase perdi o horário. Aliás, muita gente se atrasou.

João - Que sacanagem...

Lucas - Aí abro o caderno de provas e ele tava cheio de erros. Gabarito errado, folhas em branco, questões repetidas, questões faltando... Sem contar que a prova tava super foda!

João - Sério?!

Lucas - Cara, metade das questões de humanas eram sobre zona rural, trabalhadores rurais, MST... Eu não sei nada dessa porra! E ainda veio uma pergunta sobre um tal de Michel Foucault. Nunca ouvi falar nesse merda!

João - Que grande merda!

Lucas - Eu tive vontade de sair correndo na parte de química. E na de matemática então... Queria ter incorporado o Einstein pra fazer aquilo. E, mesmo assim, não sei se daria tempo.

João - Vixe!

Lucas - A prova de inglês tava fácil. E a redação era super manjada. Nessas duas partes eu fui bem.

João - Pelo menos isso!

Lucas - Mas não vai adiantar nada, pois já anularam a prova!

João - Nem fiquei sabendo...

Lucas - É, o pessoal entrou na justiça por conta dos erros de impressão.

João - É bem complicado mesmo. Você se prepara um ano inteiro, chega na hora e acontece isso. É de colocar o dedo no cu e rasgar.

Lucas - Tinha que rasgar o cu de quem elaborou essa prova, isso sim!

(O garçom chega com a porção de batata)

João - Obrigado! Servido aí Lucas?

Lucas - Tô de boa... Cara, aquela ali não é a Jéssica?

João - Putz, é sim! E a Luana tá junto dela.

Lucas - Elas estão olhando pra cá...

João - Cara, esconde essa porção de batata! Ela não sabe ainda que parei de ser vegetariano!

Lucas - Esconder aonde?

João - Você realmente quer que eu responda isso?

Lucas - Calma também né... Ei, olha lá, parece que elas brigaram!

João - Eu tô vendo, tô vendo! Mas não fica olhando pra lá... Disfarça!

Lucas - A Jéssica tá chorando... Coitada. A tal da Luana a deixou. Por que você não vai até lá?

João - Espera ela sofrer mais um pouquinho...

Lucas - Tá certo. Mas acho que é a sua chance!

João - Tá bom, tá bom ...


... 1 mês depois...

Jéssica - Filho da puta! Filho da puta!

João - Que foi amor?

Jéssica - Não acredito que você roubou de novo minhas maçãs! Eu tinha acabado de plantar... assim nunca vou conseguir ter moeda verde pra comprar mais um terreno! Você vai ver quando eu tiver um cão de guarda, vai ver!

João - Que que você disse, amor? Eu tava postando no twitter e não entendi!

Jéssica - Esquece.

(O celular de Jéssica vibra)

(Uma mensagem)

(QUERO O SEU PERDÃO. AINDA TE AMO MUITO. LUANA S2)

João - Amor, você não vai mexer no seu twitter não?

Jéssica - Não. De repente eu perdi a vontade...