domingo, 19 de dezembro de 2010

O verdadeiro Papai Noel

Papai Noel - O que você quer ganhar de Natal?
Menininha - Uma "muneca" bem "munita"! 
PN - Papai Noel vai dar se você se comportar direitinho - respondeu o velhinho automaticamente, como qualquer Papai Noel de shopping. O emprego era um excelente "bico" e era garantido todo final de ano. José se aposentara fazia 2 anos e essa grana extra podia lhe ajudar a pagar as contas.
Menininha - Tá bom, Papai Noel! 
No entanto, o trabalho era cansativo. Todo tipo de criança, das mais educadas às mais pentelhas iam lá sentar no seu colo e falar sempre as mesmas coisas. As respostas do Papai Noel eram sempre automáticas. O calor também era insuportável e aquela fantasia não ajudava. Havia dificuldade também pra se alimentar, pra ir no banheiro... E ficar sentado todo aquele tempo enjoava. 


Já havia atendido umas 250 crianças naquele dia. Estava exausto. A voz já falhava. O que o consolava era o fato de não ter mais criança na fila. O shopping fechava às 23:00 horas e já eram 22:45. José estava aliviado. Porém, avistou uma última criança se aproximando. José escondeu a irritação. Só que aquele menino era diferente. Estava sujo, mas não de uma sujeira normal. Parecia que não tomava banho há dias. Estava todo encardido. O cabelo com uma mistura de oleosidade e sujeira. Olhos remelentos, pés descalços e unhas compridas. O menino se aproximou calado. José o encarou, um pouco receoso. 

Menino - O senhor é o Papai Noel?

José - Sim, meu filho! No que posso ajudá-lo?
Menino - Sua barba é de verdade? Você é o Papai Noel de verdade?
José - Eu falei que sim... 
Menino - É que eu não queria falar com o falso. Preciso muito fazer um pedido para o verdadeiro...
José - Como assim o falso?
Menino - É que no ano passado eu fiz um pedido para um Papai Noel e ele não me ajudou...
José - Mas você se comportou direitinho?

Menino - Acho que sim. 
José - Quantos anos você tem?

Menino - 8.
José - E qual o seu pedido para o Papai Noel?
Menino - Mas antes eu preciso saber se você é o verdadeiro!
José - Eu sou, já disse. Pode pedir. Qual o seu nome?
Lucas - Lucas!
José - Legal. Sabia que era o nome de um apóstolo de Cristo?
Lucas - Que que é apóstolo?
José - Os seguidores de Jesus... Ah, deixa pra lá.
Lucas - Mas você é o verdadeiro Papai Noel?
José - Sou sim, já falei! Não fale mais isso senão não vai ganhar mais presente!
Lucas - Eu nunca ganhei mesmo...
José - Como assim nunca ganhou?
Lucas - Eu não me lembro de ganhar nada... Se ganhei, era bem pequenininho.
José - Aonde estão os seus pais?
Lucas - É por isso mesmo que eu perguntei se o senhor é o verdadeiro Papai Noel...
José - Me explique isso...
Lucas - Eu perdi os meus pais. A gente morava debaixo do viaduto, mas no ano passado eles sumiram.
José - Sumiram?
Lucas - Eu não sei. Eu tava dormindo com eles, aí acordei e eles não estavam mais lá. O pessoal lá aonde eu durmo fica falando numa tal de chacina.

José suou frio.

Lucas - Eu queria saber aonde fica essa cidade chamada chacina. Talvez os meus pais estejam lá. Eu queria pedir para o Papai Noel de verdade mandar os meus pais de volta pra casa.

José não sabia como responder aquilo. Tentou desviar o assunto:

José - Você quer pedir algum brinquedo?
Lucas - Não, obrigado, eu já tenho tudo que preciso. Bolinha de gude, latinhas. Eu ganho umas coisas bem legais por trabalhar no sinaleiro. O pessoal já me deu até uma bola. Eu e os meninos jogamos de vez em quando.
José - Que tal uma bola?
Lucas - Ah, não pode pedir algo de comer?
José - Até pode... mas eu vou voar lá do pólo-norte só pra te entregar algo de comer?
Lucas - Mas esse é o seu trabalho, não é? E se não puder trazer os meus pais de volta, eu quero um daqueles salgadinhos de pacote vermelho. Pode ser um pacote de pão e um pouco de mortadela, porque aí eu divido com meus amigos lá do viaduto.

José sentiu um nó na garganta. 

José - Venha aqui menino! 
Lucas - Aonde?
José - Por aqui...

Foram até a lanchonete Burger King. José comprou um whopper duplo para Lucas. 

José- Pode comer tudo.
Lucas - Nossa, que sanduichão Papai Noel! Eu acho que você é o Papai Noel de verdade mesmo, apesar dessa barba estranha!
José - Barba estranha?
Lucas - É, é um pouco assustadora... Já vi outro Papai Noel com a barba mais bonita que a sua.
José - Você é uma figura! - Disse, sorrindo.
Lucas - Tá muito bom esse sanduichão. E essa batata aqui também! Obrigado Papai Noel, eu tava com fome! Opa, desculpa! (disse, depois de arrotar).
José - Isso é bom então?
Lucas - Muito! A melhor coisa que já comi na vida. Apesar de que uma vez eu comi um abacaxi bem gostoso que achei no lixo. Esse pessoal joga fora tanta coisa que ainda tá boa! Eu e meus amigos comemos aquele abacaxi com muito gosto. Só descascamos com o canivete do Toninho e pronto! 

José - Deve ter sido bom mesmo...

Lucas - Sim, Sim! Papai Noel, você vai poder realizar aquele meu pedido?
José - Tô pensando ainda sobre isso, menino! Come agora.

Lucas - Tá bom. 

O menino continuou saboreando cada mordida naquele sanduíche do qual ele nunca havia experimentado.



Ao finalizar, José disse:

- Satisfeito?

Lucas - Aham! Meu estômago tá até doendo. Nunca comi tanto na vida!
José - Que bom!

Lucas - Mas então Papai Noel, você vai realizar meu desejo?
José - Bem, essas coisas são meio complicadas para realizar...
Lucas - Eu sabia, você não é de verdade! Eu já ouvi falar que o Papai Noel de verdade realiza qualquer pedido que a criança fizer! 

José - Não é bem assim...
Lucas - É sim!! - disse chorando e se afastando.

José - Espera aí Lucas!

O menino foi caminhando para a saída do shopping, chorando. José o seguiu. Estava pensativo.Lá fora do shopping, Lucas sentou na escadaria e continuou chorando. 

José - Lucas, eu tenho que te falar uma coisa.
Lucas - O que, que você não é o Papai Noel?
José - Isso mesmo.
Lucas - Eu sabia! Por isso que eu nunca ganho presente nem nada, eu nunca acho o verdadeiro! 
José - Calma. O meu nome é José - disse, tirando a barba postiça e a touca.
Lucas - Viu, viu? Tem até barba falsa!
José - Eu trabalho aqui no shopping como Papai Noel. 
Lucas - Eu vi!
José - Pois é... 
Lucas - Mas agora eles estão fechando o shopping...
José - É, é hora de ir pra casa. 
Lucas - Pelo menos o senhor tem uma casa de verdade.

José olhou para o céu e ficou pensativo. Teria de tomar uma decisão.

José - Olha menino, eu moro sozinho. Minha esposa morreu faz 3 anos, não tenho filhos... Sempre quis ter, mas não pudemos...


O menino prestava atenção.


José - E eu tava pensando, enquanto seu pai e sua mãe não voltam, você podia morar lá em casa. Tem um quarto extra lá. Tem comida também. Você toma um banho, vai pra escola...

Lucas - O senhor tá querendo me adotar?
José - É, acho que é isso...
Lucas - Mas só até meus pais voltarem, não é?
José - Isso, isso! Quando voltarem você fica com eles.
Lucas - Fechado então! Eu sempre quis ir pra escola!
José - É bom querer mesmo. Lugar de criança é na escola, não na rua!
Lucas - E eu vou poder comer aquele sanduichão de novo?
José - Sim, todo final de semana.
Lucas - Aê! Legal! 


José - Vamos pra casa então?

Lucas - Vamos! - Respondeu, sorridente.


Lucas - José!

José - Diga.

Lucas - Eu acho que você é o verdadeiro Papai Noel sim, só não quer me contar!

José - Hahaha! Você é engraçado mesmo!...



A Lua se escondeu atrás de uma nuvem. Um último ônibus virou a esquina. Gatos brincavam perto das latas de lixo. Uma luz apareceu no céu. Era um fogo de artifício solitário.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O velhinho

Sempre que vejo uma criança,
como num relance
retorna a saudade 
de um tempo que se foi.
Oh, tenra idade!
Eu podia brincar
sem remorso,
Sem cansaço.
Com os meninos da rua,
Correria.
pular corda,
bicicleta,
Bola,
Pega-pega,
Cabra-cega
Todo dia!
E hoje, nada.
Fico aqui sentado
olhando a juventude 
pela janela.
O rosto enrugado,
calado,
encostado nela,
sendo a idade
minha própria cela.
Apesar de tudo,
tive uma boa vida.
Namorei, amei, casei,
filhos tive.
Porém, não me venha perguntar
como se vive.
Pois a vida
cada um sabe como tratar.
porque me arrependo
de não ter vivido,
a plenitude
da minha juventude.
Nem que tivesse sofrido
por qualquer atitude
que tomasse.
pois se nasce
somente uma vez.
Se envelhece
somente uma vez.
E aí chega o fim, 
você olha para trás
e pensa nas coisas
que não fez...

Agora vou me recostar
um pouco mais
na minha poltrona
e observar meus netos
brincando no quintal.
O cansaço chegou
logo vem um vendaval
e a fadiga é minha dona.
tenho que fechar os olhos
e descansar.
tenho que lembrar dos sonhos
e dos pensamentos que vem à tona.
Esse, porém, não é um adeus.
Talvez um tchau.
Um até logo.
Pois logo
nesse lugar
no qual estou
virá você
que agora lê.
Quando a idade chegar,
olhará para o que restou,
e lágrimas ofuscarão
tudo aquilo que você vê.
encarará o espelho
e finalmente
verá
como se sente
um velho
com a mente
no passado
nada recente.
A hora é agora,
minha criança!
Não deixe que o tempo
transforme a vida
na eterna lembrança
das coisas que nunca viveu.
Agarre o tempo
enquanto ele é seu.


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mimo, um gato esperto

Tinha 8 anos quando conheci o Mimo. Sabe aquele animal que parece um ser humano? Inteligentíssimo! Se é que podemos considerar todos os seres humanos de inteligentes. Porém, o bichano era doido. Vivia subindo em uma das árvores que havia no nosso terreno. Era como um ninja. Na velocidade quase da luz (que exagero) ele chegava lá no topo e ficava onipotente observando a rua. Quem sabe aparecesse um passarinho por ali? Mimo era um siamês bem gordinho. Eu gostava daquela cor dos pelos dele. Parecia um gato de desenho animado. Era bem caricatural. E, como todo o gato, tinha aquele ar de superioridade. Mimo era de uma nobreza esnobe; um fidalgo preso em pele animal. Faltava só a coroa pra torná-lo um verdadeiro monarca. 

Como era esperto aquele bicho! Ele aprontava as traquinagens e fazia de conta que não era com ele. Não foram uma ou duas vezes que ele roubou algum pedaço de carne da panela. Minha mãe ia com tudo de cabo de vassoura na mão. Às vezes quase o acertava, mas ele era extremamente rápido. Ou a minha mãe que não queria machucá-lo. Ela queria dar a entender que não gostava dele, não gostava dos pelos que ele deixava pela casa, do cocô que ele deixava (sempre no quintal, pois ele era muito higiênico). Xixi também, fazia só no quintal. Eu acho que aquele gato sabia que não podia fazer essas coisas dentro de casa! Acredito que com um pouco de treinamento ele poderia até mesmo se limpar... 

Mimo tinha um sexto sentido super aguçado. Ele previa as coisas de uma maneira que até hoje não entendo. Se adiantava em tudo de forma surpreendente. Adivinhava quando a gente ia dar comida pra ele. Se um cachorro invadisse nosso quintal, lá estava ele, de antemão, no topo daquela árvore, sentadinho no seu trono. Nada lhe escapava. Se a gente estivesse achando graça dele, fazendo cara de "óin, que bonitinho", logo ele vinha se esfregar nas nossas pernas, sentar no colo. Era super carinhoso, até anormal para um gato. Outra coisa incrível é que ele sabia também quando estávamos falando mal dele! Vou contar um fato que aconteceu para vocês entenderem:

Meu pai era e ainda é um exímio jogador, assim como eu. Ele disputava torneios de baralho, sinuca, pebolim, dominó, e assim por diante. Tinha diversos troféus que ficavam em cima de uma cristaleira. Não é que num belo dia o nosso querido Mimo foi se engraçar com as estatuazinhas? Ficou lá, brincando, dando soquinhos nelas, empurrando. E meu pai nem percebeu, pois estava no sofá vendo algum programa bobo. De repente, não sei como, o gato derrubou um dos troféus. Adivinha onde foi que ele derrubou? Bem na careca do meu pai! Aquela mãozinha da estátua fincou na cabeça dele e ele deu um grito alto! Claro que Mimo já estava longe antes mesmo de meu pai olhar pra ele. O gato sumiu uma semana, mais ou menos, depois do incidente. 

Só que meu pai não esqueceu o fato, até porque ainda tinha a marca do troféu na careca. No entanto, não fez nada contra o Mimo. Apenas reclamou dele. Aí que vem o lance interessante: quando a gente reclamava dele, ele abaixava as orelhas! Parecia que ele ouvia a conversa. No primeiro "Esse gato é um.." ele já tava abaixando as orelhinhas e saindo de fininho. 

Esse era o meu magnífico gato. Agora vem a parte trágica da história.

Mimo era arteiro, já falei. Acontece que ele não fazia suas estripulias apenas na minha casa. Ele andava pela vizinhança fazendo arte. As pessoas vinham contar pra gente sobre as tentativas dele de roubar comida, ou quando tinha caçado um rato, e até mesmo quando tentava pegar algum passarinho engaiolado. E a maioria dos vizinhos gostava dele.

Porém, alguém não gostou. Num dia tenso, muito tenso, quando eu tinha meus 12 anos, por aí, Mimo apareceu deformado. Haviam jogado água fervente nele. Coitado. O rosto dele, as patas traseiras, uma parte das costas, tudo estava queimado. Ainda bem que ele não ficou cego. Porém, dava pra ver que aquilo doía. E doeu mais ainda em mim. Meu gato nunca mais foi o mesmo depois daquilo. Perdeu a agilidade, não subiu mais no seu trono, passou a não ter mais tanta coragem. Parecia estar traumatizado. Passou a ficar sempre quietinho no seu canto, triste. Eu fazia carinho nele e ele retribuía. Sabia que podia contar comigo. Ele podia ser considerado um gato feio para os outros, pois estava deformado, mas pra mim ele ainda era o mesmo Mimo, lindo e inteligente. Meu querido siamês.

Ainda não chegou o momento mais trágico.

Mimo morreu. Talvez tenha acontecido num dia em que ele criou coragem e tentou novamente ser o gato esperto de antes. Acabou entrando numa casa e não saindo mais de lá. Havia dois cachorros ferozes nela. Não sei ao certo se eram da raça doberman, mas é isso que me vem à mente. Só sei que os cães o estraçalharam. Quando me contaram o fato, chorei, ainda que escondido. Meninos não choram, não é? Imagine um homem de 13 anos! Nem quis buscar os restos mortais dele. Não o enterrei. Não tive coragem. Preferia pensar que ele havia sumido. Que foi conhecer o mundo. Foi caçar os ratos de algum país distante. Quem sabe entrou num navio de cruzeiro? Poderia estar na China. Nos Estados Unidos. Ou teria aprendido a voar e agora estava lá no alto, sentadinho no seu trono nos observando, sempre com aquele ar esnobe. 


Até hoje quando vejo um gato eu lembro do Mimo. Quero um dia encontrá-lo, se for possível. Acredito que os gatos devem ter alma. E ele deve estar em algum lugar por aí roubando comida de algum anjo.

Mimo, aonde você estiver, esse texto foi feito pra você. Um dos animais que mais amei na vida e que ainda amo. Um amigo no qual eu sempre pude confiar. 

Um ser especial. 

Um gato voador.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Poema de amor n.° 10000

Os amores que não tive sempre se manifestam.
Nos soluços, à noite, no choro solitário.
Ela estará com outro, e ela, uma outra, também.
Lá fora, andorinhas fazem seu último voo, talvez.
Estrelas cadentes cruzam a parte obscura da Lua.
E você, especialmente você, estará com outro.
Fiz de tudo para conquistá-la. Não tive mais forças para continuar.
E esse uísque continua cada vez mais amargo.
E meu coração continua cada vez mais amargo.
E os dias passam, não tenho você.
Rugas. Barbas e cabelos brancos; olhos tristes.
Cada segundo, cada batida do coração me distancia de mim mesmo.
E as horas me fazem passear nesse limbo como se estivesse montado num carrossel.
E você está com outro. Você está feliz. Eu deveria estar feliz.
A Lua lá fora sorri. As nuvens cantam uma melodia tenebrosa.
As estrelas mudam de lugar.
Eu queria estar lá fora, livre.
Queria ser um nada.
Queria ser um tudo.
Já que não a tenho, que ninguém a tivesse.
Não a quero morta, somente gostaria que sumisse.
Pelo menos que sumisse dos meus pensamentos.
Que parasse de caminhar comigo todos os dias.
Que parasse de olhar nos meus olhos quando observo o espelho.
Que saísse das minhas retinas.
Que abandonasse meus sonhos.
Que eu não a visse nos braços de outro, nua.
Totalmente entregue a outro, feliz.
Não quero mais ver esse sorriso.
Não quero lamentar, não quero chorar.
Ainda se eu me afogasse nesse riacho de lágrimas.
Ainda se isso não doesse tanto.
Lá fora há somente pessoas felizes. E eu aqui.
Admiro a Lua. Apesar de sozinha, é brilhante.
E se nessa minha vida eu tivesse mais brilho do que o existente em seus olhos.
Se eu me amasse mais do que te amei um dia.
Se a vida fosse mais justa.
Se essas palavras não me ferissem como uma corda no meu próprio pescoço.
Ainda assim, gostaria de te amar mais uma vez, nem que fosse em outra vida.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma noite de tango em Calle Florida

Hola, que tal?
Yo conozco su Carnaval.
En la calle, um tango.
Um rango. Um Mc, Hermanos!
Dá pano pra manga.
Um tango bem dançado ou samba.
Na noite argentina, luzes confusas:
Con-fusos-horários.
Na pista, artistas, cabras guapos.
Nas esquinas, seres em trapos.
É festa, é arte. É quase marte.
Outro mundo. Florida Florida.
Cores e sumos de fruta.
Insólita solidão gostosa.
Cuanto custa?
solamente?
Me gusta! ahora un vino fino!
En la iglesia, un seno.
Um aceno.
Adíos hermanita!
Hasta la vista!

Amor de verdade

Amor na lápide, na tumba ou fossa;
atroz, covarde, nunca renasce.

Amor de praxe.

amor e ódio, sem sal, insossa!
Mas há ardor, ferida coça.

há o encaixe.

Quando, porém, lhe bate a face
quando, porém, pisa à poça
do amor sincero, há o enlace.


E A FELICIDADE nasce.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Capitão-salva-putas Vs. O atormentado pela sogra onírica.

Uma Zona "marromenos" chique (como em boa parte dos meus contos)...

- Me vê mais uma dose de Jack Daniel's, por favor! - disse o homem de aproximadamente 40 anos, barba branca por fazer, sobrancelhas grossas e vestido com um terno surrado.
- É pra já, senhor! - disse o garçom.
- Cowboy!
- Ok.
- Eu também sou acostumado a tomar Jack assim... - Disse o sujeito magro, por volta de 30 anos, de nariz pontudo e olhos de suricate.
- Tem bom gosto!
- Isso aí!
- Diego, prazer! - Disse o magricelo.
- Tom! - respondeu o de barba, fingindo certa virilidade à lá filmes western.
Diego - E o que te faz se entregar ao uísque hoje?
Tom - Minha sogra.
D - Como assim?
T - Eu tenho tido uns sonhos esquisitos com ela...
D - Vixe! Que tipo de sonhos?
T - Os mais loucos que você possa imaginar.
D - Me dê uns exemplos então...
T - Num deles eu voava como um passarinho em direção ao horizonte infinito, quando fui atingido por uma chuva de meteoritos que tinham, cada qual, o formato de um dedo do meio. Como se todos os meteoritos estivessem me mandando se fuder. Entendeu?
D - Que doido! - Disse Diego, rindo. - E aonde entra a sua sogra nesse sonho?
T - Eu caí direto numa cratera que me levou para o inferno. E adivinha aonde fui parar? No colo do capeta! Agora pensa em quem era o capeta?
D - Sua sogra?
T - Exato! Com chifres gigantescos e sentada no trono dourado.
D - Puta que pariu!
T - E quando ela sorriu pra mim o pesadelo acabou.
D - Menos mal. Imagina se isso tivesse continuação...
T - Só sei que ando atormentado. Eu acho que a véia é "meia" macumbeira.
D - Sai pra lá!
T - Ela deve ter feito algum trabalho contra mim, certeza!
D - Ela mora com vocês ?
T - Deus me livre! Quero aquela coisa desdentada longe de mim.
D - Que barra... Ela enche muito o seu saco?
T - A mulher acha que eu não sirvo pra filha dela. Sempre tentou nos separar. Só porque eu sou aposentado por invalidez...
D - Desculpa perguntar cara, mas como assim aposentado por invalidez?
T - Eu era professor. Os filhos da puta dos alunos da sexta série acabaram com minha saúde mental. Tomo remédios de tarja preta e tudo mais... O psiquiatra tem medo que eu me suicide ou mate alguém. Ele acha que sou um pouco psicopata... Essas coisas todas.
D - Caralho! E você pode tomar uísque assim?
T - Bem, poder não posso... Mas quem que aguenta ficar sem tomar umas de vez em quando?
D - Tá certo...
T - E você, que que faz por essas bandas?
D - Vou falar uma coisa meio "boiolística". Tô apaixonado...
T - Que "boiolística" nada, cara! Eu também já passei por essas coisas.
D - O meu problema é maior do que você imagina.
T - Então me conta, uai!
D - Tô apaixonado por uma puta daqui...
T - Que merda hein! Desculpa falar meu amigo, mas você tá fudido...
D - Eu sei. Mas cara, a mulher me pegou de jeito.
T - Hummm...
D - Não sou de pegar puta, sabe. Só que tava super necessitado e fiquei sabendo dessa zona aqui através de um amigo. Vim pra cá meio que sem saber se teria coragem. Então apareceu essa mulher. Nunca vi pessoa mais atenciosa. Me tratou super bem... Te falar cara, nem parece puta. Eu nem gosto de lembrar que ela é... Fico me enganando, sabe...
T - E de repente se apaixonou?
D - É. A gente transou na primeira vez. Ela me deixou fazer tudo... Só que ela era carinhosa. Foi doido. Parecia que eu tava com o amor da minha vida, sabe? A melhor experiência que eu já tive na cama. Ela sabia fazer bem a coisa.
T - Deixou fazer tudo, tudo? - disse, enfatizando o último "tudo".
D - Tudo... Isso aí...
T - Entendo.
D - E me cobrou a metade do preço na primeira vez. Na segunda ela nem me cobrou mais.
T - Você fica com ela de graça?
D - Sim! Venho aqui três vezes por semana... Ela é foda cara! Quero tirá-la dessa vida de puta!
T - Espero que você consiga!
D - Valeu pelo apoio!
T - Ela já está aí?
D - Vai chegar daqui a pouco... Tá quase na hora.
T - Aham...

(15 minutos depois... )

D - Olha lá ela...
T - O quê? - disse Tom, paralisado e com um olhar que aparentava um "estado de choque".
D - Que foi?
T - SANDRA?
D - Você a conhece? - Disse Diego, já bem aterrorizado por conta da reação de Tom.
T - Ela é minha mulher, seu filho da puta!
D - COMO?
Tom correu na direção de Sandra e já fui a puxando pelos cabelos. A mulher não teve tempo de reagir.
T - Sua vagabunda! O que você tá fazendo aqui? Esse é o horário de você ir para o curso de inglês!
Sandra - Ai amor, solta meu cabelo, eu explico... - Disse, já chorando.
T - Explica o caralho! Sua puta! Agora eu entendi tudo!
Sandra - Ai, calma!
T - Calma? Você tá pedindo calma pra mim? Calma você vai ver agora...
Tom pegou Sandra pela cabeça e bateu seu crânio contra a parede... Todo mundo na zona assistia a cena. Ninguém quis se intrometer, talvez por medo. As garotas de programa sumiram rapidamente. Somente ficaram no local os curiosos e Diego. Este tremia. Não sabia o que fazer. Viu Tom matar Sandra em segundos. Quando o marido traído abandonou o corpo da mulher no chão, logo olhou na direção de Diego.
D - Eu não fiz nada cara... Eu não sabia de nada!

Tom caminhava lentamente na direção dele com olhos diabólicos e flamejantes.
D - Me perdoa, por favor!
Tom chegou ao lado dele e se sentou no mesmo lugar que antes se encontrava.
T - Vaza! - Disse, sem olhar para Diego e admirando o copo de uísque.
Diego saiu correndo dali sem nem olhar pra trás. Algumas pessoas seriam capazes de dizer que o sujeito poderia facilmente disputar uma prova de 100 metros rasos.
Tom continuou saboreando seu Jack Daniel's. Já estava sozinho no estabelecimento. Ao longe dava pra ouvir a sirene da polícia. De repente o homem deu um sorrisinho maléfico com o canto da boca. Tomou o resto do uísque num gole só e disse baixinho pra ele mesmo:

- Aquela véia filha da puta...
Lá fora, um carro da polícia chegava. A algumas quadras daquele lugar, um homem corria como se não houvesse amanhã. O suor se misturava com as gotas da chuva repentina.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amor, ENEM e o Mundo Digital...

João - Garçom, vê uma porção de batata?

Garçom - Com bacon?

João - Pode ser...

Lucas - João, você não era vegetariano?

João - Eu tentei ser por causa da Jéssica. Sabe como é né, agradar e tudo mais...

Lucas - Mas você era chato pra caralho! Não podia me ver comendo carne que já chegava falando dos malefícios, que eu ia morrer mais cedo, que teria um tumor nas bolas, no cu, etc.

João - Foi mal cara. É coisa de ator, tá ligado? Tem que incorporar o personagem, senão não dá certo. É coisa de acreditar na própria mentira.

Lucas - É um boiola mesmo! E a Jéssica, te largou mesmo?

João - Aquela filha da puta me trocou por outra menina.

Lucas - Disso eu não sabia! hahaha! Me conta como foi.

João - Sabe que eu e a Jéssica éramos fissurados por coisas eletrônicas, não é? Vivíamos no computador. A gente tava sempre no twitter, no facebook, no orkut, no myspace, no msn... Sempre baixando alguma coisa. Namorávamos muito mais online do que offline. A gente brigava quando um roubava a colheita feliz um do outro! Nosso programa preferido do sábado era baixar algum episódio de algum seriado de menina, tipo Gossip Girl, e ficar assistindo e falando merda no msn.

Lucas - Disso tudo eu sei...

João - Pois é. Sem contar que passávamos horas jogando videogame. Ela gostava de Wii Sports e eu de Zelda.

Lucas - Também lembro disso tudo. Você ainda é assim, um quase nerd.

João - Esse é o problema. Quando não estávamos juntos, nem mesmo online, a gente tava no celular conversando ou trocando mensagens. Nossa vida juntos só era possível por conta dos aparelhos eletrônicos!

Lucas - E isso é ruim?

João - Foi determinante na nossa separação... Jéssica começou a sair com uma amiga que era toda tatuada. Ainda por cima era roqueira e motoqueira. Se chama Luana...

Lucas - Tô até imaginando o que aconteceu...

João - A tal da Luana começou a levar a Jéssica em vários lugares que ela nunca tinha ido. Iam até montanhas, parques com grandes lagos, pontos turísticos, shows de rock, raves. Luana dizia que iria ensinar a Jéssica a viver. E não deu outra. Duas gatas correndo em alta velocidade numa moto em pleno pôr-do-sol... Cabelos jogados ao vento. Não tinha como competir com isso. Não tinha post no twitter que a trouxesse de volta para o meu lado. Reconheço a derrota. Reconheço também que foi tudo culpa da minha dependência com relação aos aparelhos eletrônicos e internet. Se não fosse isso, talvez ela não tivesse me largado pra ficar com a motoqueira.

Lucas - Triste, muito triste...

João - É por isso que eu vou comer carne! Que venha o bacon, a costela, a maminha, o pernil. Venham gaúchos com seus churrascos pingando sangue! Quero mais é devorar tudo pra contornar minha desilusão!

Lucas - Eu faria o mesmo, amigo!

João - Valeu pela compreensão. E você, cara, o que conta? Como foi no ENEM?

Lucas - Não fui.

João - Como assim?

Lucas - Foi uma merda! Estudei o ano inteiro pra essa porra, mas chegou na hora e tava tudo errado!

João - Pô, mas dizem que essa prova é super controlada e tals...

Lucas - Dizem, mas não é verdade! Pra começar, enfrentei um puta congestionamento pra chegar no local da prova. Quase perdi o horário. Aliás, muita gente se atrasou.

João - Que sacanagem...

Lucas - Aí abro o caderno de provas e ele tava cheio de erros. Gabarito errado, folhas em branco, questões repetidas, questões faltando... Sem contar que a prova tava super foda!

João - Sério?!

Lucas - Cara, metade das questões de humanas eram sobre zona rural, trabalhadores rurais, MST... Eu não sei nada dessa porra! E ainda veio uma pergunta sobre um tal de Michel Foucault. Nunca ouvi falar nesse merda!

João - Que grande merda!

Lucas - Eu tive vontade de sair correndo na parte de química. E na de matemática então... Queria ter incorporado o Einstein pra fazer aquilo. E, mesmo assim, não sei se daria tempo.

João - Vixe!

Lucas - A prova de inglês tava fácil. E a redação era super manjada. Nessas duas partes eu fui bem.

João - Pelo menos isso!

Lucas - Mas não vai adiantar nada, pois já anularam a prova!

João - Nem fiquei sabendo...

Lucas - É, o pessoal entrou na justiça por conta dos erros de impressão.

João - É bem complicado mesmo. Você se prepara um ano inteiro, chega na hora e acontece isso. É de colocar o dedo no cu e rasgar.

Lucas - Tinha que rasgar o cu de quem elaborou essa prova, isso sim!

(O garçom chega com a porção de batata)

João - Obrigado! Servido aí Lucas?

Lucas - Tô de boa... Cara, aquela ali não é a Jéssica?

João - Putz, é sim! E a Luana tá junto dela.

Lucas - Elas estão olhando pra cá...

João - Cara, esconde essa porção de batata! Ela não sabe ainda que parei de ser vegetariano!

Lucas - Esconder aonde?

João - Você realmente quer que eu responda isso?

Lucas - Calma também né... Ei, olha lá, parece que elas brigaram!

João - Eu tô vendo, tô vendo! Mas não fica olhando pra lá... Disfarça!

Lucas - A Jéssica tá chorando... Coitada. A tal da Luana a deixou. Por que você não vai até lá?

João - Espera ela sofrer mais um pouquinho...

Lucas - Tá certo. Mas acho que é a sua chance!

João - Tá bom, tá bom ...


... 1 mês depois...

Jéssica - Filho da puta! Filho da puta!

João - Que foi amor?

Jéssica - Não acredito que você roubou de novo minhas maçãs! Eu tinha acabado de plantar... assim nunca vou conseguir ter moeda verde pra comprar mais um terreno! Você vai ver quando eu tiver um cão de guarda, vai ver!

João - Que que você disse, amor? Eu tava postando no twitter e não entendi!

Jéssica - Esquece.

(O celular de Jéssica vibra)

(Uma mensagem)

(QUERO O SEU PERDÃO. AINDA TE AMO MUITO. LUANA S2)

João - Amor, você não vai mexer no seu twitter não?

Jéssica - Não. De repente eu perdi a vontade...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Acorda, mamãe!

A mãe trancou a porta. Estava sozinha com a sua única filha de 2 anos. Era solteira. A gravidez foi resultado de um caso. Nunca quis ir atrás do pai, pois não valia a pena. A casa ficava numa região com poucos moradores. Cidade pequena do litoral paranaense. De vez em quando, surgiam uns andarilhos mal vestidos pedindo comida. Porém, a movimentação de pessoas era fraquíssima.

Após trancar a porta, caminhou alguns passos em direção da cozinha e caiu. Infarto fulminante.

A filhinha de 2 anos caminhou até a mãe. Sacudiu, sacudiu e nada.

- "acóda", mamãe!

E nada.

Ela começa a chorar. O choro fica cada vez mais forte e estridente em alguns momentos. Depois de algumas horas, a menina se cansa. Dorme ali, ao lado do corpo da mãe morta, no chão mesmo.
4 horas depois ela acorda. Nada da mãe levantar.

Vai até o banheiro, levanta a tampa do vaso, senta nele e faz xixi. Não lava as mãos.

Caminha até a cozinha. Está com fome. Come uns biscoitos que estavam em cima da mesa.

Vai até a sala. Liga a televisão. Muda de canal até achar algum programa infantil que gosta. Permanece lá, assistindo, deitada no sofá.

Escurece. Ela começa a ficar com medo. Principalmente porque alguns cachorros uivavam forte perto dali. Vi em todos os cômodos da casa para acender as luzes. O corpo ainda está lá, intocável. Bebe água e come pão. Porém, o medo não passa. O choro volta. Berros e mais berros. Tenta abrir a porta da frente, que a mãe havia trancado antes de falecer. Não consegue. Não entende aquele mecanismo de virar a chave... Além de chorar, agora ela bate na porta com suas mãozinhas, na esperança de que aquilo se abrisse. Depois de alguns minutos, desiste. Deita no sofá novamente e dorme.

Acorda na manhã do outro dia. Faz coisas semelhantes às do dia anterior.

...

Uma semana depois a menina está com fome. Porém, a comida havia acabado. Sem forças, não conseguia nem mesmo chorar. O corpo da mãe cheirava mal, o que a fazia evitar de chegar perto dele.

...

Uma semana depois, a menina está deitada no sofá de sempre, agonizando. Não sabia muito o que estava acontecendo, mas queria que aquela sensação amortecedora acabasse logo. A casa estava toda revirada... Ela havia procurado comida em todos os lugares. Tudo cheirava mal, inclusive a criança, pois não havia tomado banho. Claro que a maior parte do mal cheiro vinha do corpo da mãe já em decomposição.
...

Alguns dias depois, a menina ainda conseguiu expelir algumas lágrimas, numa mistura de tristeza e medo. Seu corpo todo doía. Ela não tinha forças. Estava agonizando. Puxava a respiração e o ar não vinha. Estava se sufocando. As lágrimas escorrendo e a dor aumentando. Ao olhar para para o chão, avistou uma pequenina formiga correndo e carregando folhas nas costas. Puxou o último fôlego e faleceu.

...

Do lado de fora da casa, um carteiro batia palmas. Estranhou o silêncio. Insistiu, insistiu. Acabou desistindo.

O sol se pôs. Os cachorros uivaram mais alto naquela noite.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O que acontece quando o amor acaba?



Você pode ser muito cético. Borboletas voando ao seu redor, brisa do mar, céu azul, ou estrelado, ou só o lusco-fusco, ou só o branco da neve, ou nada, e você nem aí. O que enxerga são estruturas. Cada sala é uma ante-sala para outro cômodo. A vida é vivida entre essas paredes. Você pode ser cético e cego para essas belezas. Porém, quando chega o amor... Ah, suspiros, soluços, bochechas ruborizadas, flashbacks dos encontros, projeções do futuro a dois, injeções de ânimo diário; sorrisos instantâneos ao saborear o gole de café. É o amor. Troca de olhares, carinho, cinema. Mãos dadas, bocas dadas, almas dadas e lavadas. Afagos, sossegos, sonetos solitários. Um solo seco é semeado; fertiliza-se. Visualizam-se frutos, árvores, jardins. Cuida-se desses jardins imensos. Rega-se dia após dia. O afeto contínuo do cotidiano. Visualizam-se a velhice, as virtudes de toda uma vida, as feridas. Cobrem-se as cicatrizes; atrozes cicatrizes.

Então, num belo dia - ou não tão belo assim - o amor acaba. Todo aquele esplendor se desmancha, se ofusca. O jardim se seca. As cachoeiras secam. Os pássaros e as borboletas somem. Os sorrisos se fecham, assim como as portas... Assim como as almas. Por algum tempo, vive-se num mundo cinza, monocromático. Tornamo-nos lobos sedentos, raivosos, asquerosos. É a transição. Não somos fáceis nesses momentos. Ficamos frágeis. Somos de vidro. Quebramos com um simples toque. Quanto maior a estatura do amor que desmoronou, maiores os efeitos da queda. E você pode cair com tanta força que o impacto é capaz de criar uma cratera, que te engole. Não tem como sair dela sem se esgotar. Mas você sai.

E surge um novo amor. Num relampejo, aparece o arco-íris. Renascem as flores no seu jardim. E o sorriso ao saborear o café quentinho ao tocar os lábios. O céu fica azul. As borboletas ressurgem, com as amigas andorinhas, com o cheiro da brisa do mar, com as luzes, a felicidade.

E some o abismo, some o sofrimento, secam-se as lágrimas. Fica só você e você, ao olhar para o espelho e reverenciar uma nova manhã. Encara-se. Observa-se. O reflexo faz o mesmo, óbvio. Na mente somente uma certeza: é muito bom amar a si mesmo. Você se ama. É completo em si.

Até que num belo dia - esse é belo ? - encontra um novo amor.

Um amor pelo outro.

Dará certo dessa vez?

Na dúvida, não traia aquele que está do outro lado do espelho.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

PUBLICIOTÁRIOS

Eu gosto deles. A publicidade dominou o mundo, não? Vc bebe SEMPRE coca-cola! Quem disse que não dá, a Fininveste dá! ;)

Dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim...é Big Mac! Big Mac! Tcham! (barulhinho final).É verdade q o molho especial na verdade é maionese? Já me falaram isso. Outra coisa, algumas pessoas não sabem que picles é pepino...Se vc não sabe que picles é pepino, morra? Vc é um ignorante. (Y) Da mesma foram q eu, que não sei q molho especial é maionese...

Hellmann's, a verdadeira maionese! Hellmann's ... Sempre me intrigou o fato disso significar Homem do Inferno...Não é querer viajar na maionese, mas já viajando, o q o capeta vai fazer com isso lá? Aliás, alguém sabe como é feita a maionese? É simples: ovos, vinagre e sal. Agora me diga, o que isso tem a ver com homem do inferno? Simples: publicidade!!! Isso sim é o demônio!!!

Falar q a boneca da Xuxa chora sangue vende mais discos Só para baixinhos! Ela não tem um pacto com o capeta, ela tem com a Som Livre!

O que não deixa de ser algo parecido...

Um bom publicitário conseguiria fazer uma promoção sobre o nazismo: "compre a sua suástica com 0% de juros! Comprou, mata um judeu!"

E quando entra época de eleição? Lá aparecem os marketeiros com suas musiquinhas, historinhas cinematográficas de políticos, slogans... MEU NOME É ENÉIAS!!! Quem nunca viu isso? Brasil, um País de Todos...(se ligou no PT do Slogan?). Altas mensagens subliminares.

Mensagens subliminares...A coca tá cheia disso. Você é hipnotizado por algum comercial dela todos os dias. Chega a tomá-la mais q água. Sabia q a coca nem é tão boa assim? Qualquer gasosa de bar é melhor q ela. Mas o comercial te faz pensar que ela é incrível.Deixe de beber coca por uma semana. Não veja comercial nenhum dela. Depois prove: ela vai ter gosto de mijo doce. (Y) Sério!

Fora as mensagens subliminares de perfumes, cigarros, automóveis e cerveja. Tudo fazendo vc pensar que vai virar um comedor de bucetas. Prestobarba com cabeças giratórias...mexe a cabeça pra lá e pra cá. A cabeça...a cabeça... VIU a conotação sexual? Não são só os filmes da Disney que tem mensagens subliminares não meu camarada. Apesar de que as deles são bem satânicas...Mas não digo mais nada também, pq agora já não se acha Mensagem subliminar só em músicas do Roberto Carlos, em Rock e nos discos da Xuxa..

A moda agora é achar mensagem falando de satã em músicas evangélicas! Procure no youtube o que acontece se vc ouvir o hit Faz Um Milagre em Mim ao contrário! É quase um ritual satânico, sério... mas já estou me desviando do assunto: estou falando de publicitários, que também são demônios.

Eles conseguem vender a própria mãe; conseguem fazer você virar gay, doar seus órgãos, votar na Marina da Silva!

(Sou a favor de doação de órgãos, só pra deixar claro e para que não me processem!)

Se você cagar num potinho e der para o publicitário fazer uma campanha pra vender aquilo, ele vai conseguir! "É nutritivo comer fezes! Tem vitamina B5 e fortalece o DNA. Seu cabelo não vai cair mais. É melhor que viagra!" e por aí vai.

Fora as palavras em inglês: Feedback, briefing, holding, delay, smart, layout...Ah, vai tomar no cu! Vcs estão no Brasil porra!

Se vc tem um amigo publicitário ele sempre vai estar ocupado (Y). Aí vc pergunta: o que vc tá fazendo? Ele: mexendo no photoshop! O seu amigo publicitário estará SEMPRE, anotem isso, SEMPRE mexendo no photoshop. É um vício deles que não sei explicar. Não só no photoshop como estarão mexendo em todos os programas de imagens e realidade aumentada (e o diabo a quatro).

Mas não vou falar muito disso pra não perder amigos;Os quais devem essa hora dormindo, mexendo no photoshop ou jogando colheita feliz.

Minha dica final é: publicite-se, portanto, e seja feliz. Mesmo sendo um diabo na terra q só pensa na melhor maneira de vender a dentadura da própria vó.

sábado, 20 de março de 2010

Bêbados (crônica do Twitter)

Não tenho nada contra bêbados. Até porque sou um deles. Eles são muito importantes para a sociedade.Pois quem fala mal de bêbados são os outros 10% que não o são. Que q tem de mais você chegar em casa e dar umas chapuletadas nas crianças?
Criança merece muito levar umas porradas de qualquer forma. Crianças e gatos. Precisam começar a respeitar os mais fortes.
E tem vários tipos de bêbados, mas só duas classes: os fudidos e os não-fudidos.Os fudidos somos nós, os de classe baixa. Manos com tubão, gente produzindo Smirnoff Ice genérico (Sprite + Vodka), tomando álcool etílico.Por falar nisso, é muito inteligente o bebum que toma álcool etílico; pois ele bebe e já vai tratando das feridas. Muito Genial!
os fudidos são os mais camaradas. Todo mundo vira amigo deles. Podem até não ter dinheiro, mas insistem em pagar sua conta.Eles sobem nos palcos dos shows, se acham os maiores dançarinos, pensam que vão catar alguém naquela condição. E pior que uns levam sorte!Pois não existem somente homens bêbados! Muitas mulheres fazem parte desse grupo! Elas são a alegria da galera.
Sabe aquela mocréia de fim de festa? Aquela que vc cata meio com vergonha...vai levando-a meio escondido, pela penumbra...
Mas enfim, vamos falar de bêbados! Eu particularmente adoro os fudidos; os tomadores de vinho canção e pinga Nabundinha.
No entanto, ainda existe o outro grupo dos não-fudidos. São os caras com grana que excedem na dose quase todo dia.
Eles são os responsáveis pela idéia já generalizada de que "cu de bêbado não tem dono".Pois são, em sua maioria, gays enrustidos que resolvem se soltar quando tomam um pouco mais do seu Scotch. Ou do seu frizzante de 200 reais.Quer saber, eu não vou falar desse tipo de bêbado não! Eles que se fodam! Vou voltar a falar do outro tipo, com o qual me encaixo.Peraí, me encaixo no bom sentido hein! Seus maldosos! Daqui a pouco vem algum espertinho falar que vou jogar truco valendo o toba. :P

Se as sociedades de Antigo Regime tinham o bobo da corte pra alegrar, a nossa tem os bêbados fudidos de boteco!Eles trazem a felicidade para os becos...saem cambaleando nas ruas, dormem nas praças; acordam queimados na areia da praia.É uma beleza! Chegam em casa e dão uns tapinhas na mulher; umas chicotadas nos filhos pentelhos. No outro dia tá tudo em paz...Não sei como conseguem ainda acordar cedo pra ir direto pra construção. Eles são heróis na verdade! Eu os admiro. Nem percebi que já tô há quase meia hora escrevendo sobre bêbados. O assunto me empolgou! Cabe até uma parte II disso.

Mas fica pra próxima. Agora vou ali dar um gole no meu Smirnoff Ice genérico. Como não tenho mulher e filhos pra bater, eu durmo logo em seguida.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Como ser Loser (crônica do Twitter)


Primeiro, tenha internet. É necessário para virar loser. Tá vendo algum limpador de fossa aí na net? Não? Ele tá comendo alguém.
Ou seja, você que está na net tem o potencial de ser mais loser do que o cara que trabalha com merda.
Segundo: seja extremamente tímido. O professor VAI fazer perguntas pra você na aula e suas pernas VÃO tremer muito na hora de responder.
A menina feia que tá na festa olhando pra você não te quer! Ela tá somente observando um sujeito mais feio que ela.
Não pratique esportes. Não goste de futebol Prefira coisas de nerd, como baixar todos os episódios de Star Wars.
Vai sair com amigos? Deixa disso! Existe o Redtube! Veja os principais vídeos amadores feitos por sujeitos que poderiam ser você!
E lembre-se, o lema do Loser é: Eu não posso, eu não consigo, eu sou fraco
Amigos de verdade? Que isso meu camarada! Os virtuais são muito melhores!
Vão sempre te bloquear quando você estiver triste e precisando de alguém; vão mandar recados via scrap; te seguirão no twitter...
Cinema com a gatinha? Nada! Baixe filmes! Principalmente no megaupload! E no sábado à noite, quando todos estiverem nos pubs se divertindo!
E depois de assistir, entre nas comunidades do orkut do filme que assistiu e abra tópicos nos quais só você vai postar. Seja inteligente!
E saiba que pelo menos sua mãe e seu pai gostam de você! Apesar de eles olharem pra sua pessoa com cara de certo arrependimento.
Depois de uns 3 anos sem pegar ninguém, sem conseguir amigos de verdade, sem um emprego decente, sem nada, você se tornou um Loser.
Comemore com veemência! Conte a todos os seus amigos virtuais o seu feito! Mande scraps; escreva uma crônica sobre losers.
E sempre acredite que amanhã é outro dia. Mesmo que amanhã seja um eterna repetição disso tudo. Pois ser Loser é irreversível.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Estudantes (crônica do Twitter)

Inúteis, é certo, mas é bom fazê-los pensar que são o futuro da sociedade. Estudantes são como a fase larval de cada um de nós.

Aí com o tempo a gente vai evoluindo. Aprendemos a ler de verdade, a escrever de verdade, a raciocinar de verdade.

Estudantes brotam de árvores. São piores do que vendedores de guarda-chuva na hora do temporal. Estão em todos os lugares!

Uniformizados, lotam os ônibus, os shoppings, as praças, os mercados. Ou, desuniformizados, pubs, cafés, lanchonetes, shows de sertanojo.

São um exército de hormônios ambulantes loucos para se apresentarem ao mundo. Se acham os mais inteligentes, cults, descolados...

Sabem absolutamente tudo sobre as coisas mais inúteis, como o que aconteceu no último capítulo da Malhação, ou o que mais toca na MTV.

Você sabe o que é diversão? Um estudante sabe. Ele acredita que é dono do monopólio da diversão, do entretenimento.


Tudo que não faz parte da vida de um estudante é rotulado de chato. Eles ditam as regras, eles são os donos da verdade!

E se você é um estudante, você faz parte de alguma tribo. Os faveladinhos, os manos, os nerds, as gostosinhas, as seguidoras do Fiuk..

os new-punks, os grunges anacrônicos, os crepusculoides, harrypotterloides, CQClóides, e por aí vai. Vão a cada dia lançando uma moda.

Esqueci de High School Musicaloides, Jonas Brotherloides! É tanta mania que eu até me perco!

E é engraçado o discursinho dos estudantes. Os caras realmente pegadores são os mais quietos. As meninas que dão também.


Mas o que mais se ouve numa rodinha de meninos ou de meninas é sobre sexo, pegação, blá blá. Coisa que a maioria não pratica.

E quando praticam, alguns deles ficam tão empolgados que resolvem colocar na net pra criar algum escândalo a nível nacional.

Na verdade isso é mais uma prova de que são acéfalos, pois querem mostrar para todos que podem, que conseguem, que são foda!

E agora as empresas e os políticos descobriram que os estudantes, os jovens, são uma classe poderosa, mesmo sendo idiota.

Esses dias vi uma propaganda na tv que implorou aos estudantes para fazerem título de eleitor e para votarem.

Ao mesmo tempo, comerciais de várias marcas ficaram mais imbecis para se adequarem à estrutura psíquica debilitada de seus jovens clientes.

Mas passa. Isso tudo passa com o tempo. Já fui assim também, admito. Já passei horas em frente a tv assistindo mtv.

Já fui fã de Só Pra Contrariar, já assisti malhação e já fui revoltadinho; me vestia de preto e olhava para todos com cara de malvadinho.

Aí eu evoluí para um novo nível pokémon: dos adultos "chatos". É porque agora tenho responsabilidade, pago minhas contas, etc

Mas lá no fundo, bem lá no fundo, até que eu gosto de ser ranzinza. É o que garante a alegria do meu dia.

Pois posso dar aquele sorrisinho sarcástico e interno - sem peso na consciência - toda a vez que vejo um estudante passando perto de mim.

sábado, 13 de março de 2010

Sábados (Crônica postada no Twitter)

Sábado, segundo o mito, foi aquele dia no qual Deus colocou o chinelão havaianas, deitou na rede, tomou suco de laranja gelado e dormiu.
Sábados são os dias em que os policiais prendem mais traficantes. E que dão mais cacetadas em usuários.
Você é corno? Se sim, provavelmente se tornou um num sábado. Ou ainda o irá se tornar nesse dia. É quase uma lei isso.
Sábado à noite tudo pode mudar, já dizia a música. 89% dos gays se assumem como tal num sábado.
87% das pessoas no mundo foram concebidas no sábado. O resto foi na madrugada de segunda, depois do Fantástico.
Hitler se matou no sábado. Getúlio Vargas se matou no sábado. Kurt Cobain se matou no sábado. José Serra, corra que ainda há tempo!
Para 75% dos membros de qualquer religião no mundo o sábado é sagrado. O resto ainda não entendeu o que significa a palavra "sagrado".
Você é virgem? Pesquisas dizem que você tem 80% de chances a mais de perder a virgindade no sábado. Incluindo as chances de ser estuprado.
Treinos de Fórmula 1, concursos de Miss Universo, Bombas no Iraque, quedas de Torres Gêmeas: são inúmeros os acontecimentos de sábado.
Talvez por isso esse dia seja tão especial. Vai aqui o meu voto pra gente criar "sábado II" na semana! Imagine a vida como seria diferente!
Tipo: "a gente pode se ver no sábado meu amor" e aí: "ah, vou estar ocupada! Que tal a gente se ver no sábado II ?"
Você beberia pra caralho no sábado normal, mais ainda no sábado II; aí o domingo era só pra curtir a ressaca e assistir o faustão!
Seria interessante também para o esporte. Um dia a mais para a Globo lucrar com a audiência. Um dia a mais para o Galvão Bueno trabalhar...
Sem contar que as chances de perder a virgindade, virar corno, ser estuprado ou se matar se multiplicariam.
E o Serra teria um dia a mais pra pensar na minha sugestão...
(Quase todo dia posto uma crônica no twitter. Escrevo sempre na hora com o que me vem à cabeça. Alguns ficam acompanhando "online" o desenrolar do texto. Quem quiser fazer isso, pode me seguir no twitter: www.twitter.com/leandrofpaula)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Soneto dos Olhos de Cristal

Esses olhos de cristal,
Contam-me alguns segredos,
que no cruzar dos meus dedos
entregam-me ao tribunal.

Esses olhos de cristal,
Deixam-me apaixonado;
Coração aquebrantado,
Perdido no vendaval...

O tempo urge, é vil!
Sentimentos não precisam
Do amor querer o mal!

Com um brilho de anil,
Sempre me hipnotizam
Esses olhos de cristal...






domingo, 28 de fevereiro de 2010

Soneto do Amor Impossível

Tu sabes que dela gosto!
Tolo porém nunca fui.
Em lamentações recosto:
A paixão não se conclui!

Ela é muito! Eu sou pouco...
E sofro ainda mais!
O amor me deixa louco;
Ela é meu céu, meu cais!

Navegando em turvos mares,
Abandono minhas mágoas...
Não quero enlouquecer.

Aspirando novos ares,
atiro-me nessa águas,
Para nunca mais sofrer...













terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Desapaixonar

Nunca fui muito insistente.
Ao invés de esperar a água mole furar a pedra dura,
prefiro uma marretada.
Pago minhas contas na net, pra não enfrentar filas.
Paciência pra mim é um jogo de cartas.

Não tenho vergonha de desistir.
Não acredito que irei me arrepender por isso;
Não sou chegado a esses "conselhos de tia-avó".
Sou mais a minha honra.

E nem estou seguindo aquele ditado: "se não quer, tem quem quer"!
É mais uma escolha racional:
Eu sou feio, você é linda. Pronto! Cheguei a uma conclusão...
Difícil você me querer,
Assim como é difícil eu encontrar alguém que eu mesmo queira.

Ainda mais nessa liquefação do mundo.
E me irrita o fato de muitos e muitas se jogarem aos seus pés.
Não sou de disputar. Entrego o jogo fácil!
Nunca aposto todas minhas fichas num lance.
Se eu tenho um Flush, alguém pode ter um Full House.

Tudo é incerto, mesmo nas certezas.

Mas bastaria um sinal seu.
Por que não o fez?

Se eu tivesse um pouquinho de esperança que fosse...

Nunca adentro em selvas desconhecidas.
A escuridão da mata me assombra!
Preciso de pelo menos um mapa,
uma luz.
Um cego não atravessa a rua sem sua bengala.

E assim estou eu.

Precisava de uma orientação...
Um sinal verde que fosse.
Por natureza, só enxergo sinais vermelhos.
Não cometo infrações desse tipo.
Nem sequer sou daqueles que ultrapassam
os mais lentos.
Não porque tenho paciência, pois dessa não sou dotado:
mas porque tenho medo de bater o veículo.

Diante de tudo isso, renuncio aqui minha paixão por você.

Eu canso fácil.

E isso era previsível.

Porque, eu sou feio, você é linda.

Eu sou Deus e você uma simples mortal.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O medo de todos os dias

Para não me perder nos pensamentos, escrevo.
Pois escrever acalma, relaxa o aflito;
Supera o medo, mesmo por instantes.
E é constante. Na inconstância dos pensamentos.
Ordenadas palavras, ritmadas, cardíacas.
Mais estruturadas que os batimentos.
Sentimentos e pulsações vibram;

Escrevo porque estou só.
Sozinho ao pisar na areia todos os dias, morro.
Ao escrever, ressuscito.
E o coração aflito se rejuvenesce;
Nem que se apresse o caminhar,
Nem que se apresse o escrever,
o tempo é aliado.

Nas horas estranhas, tremo.
Porque o desconhecido assusta;
Quem não sabe o tanto que a paixão machuca?
É tão bom não gostar de ninguém,
olhar em volta e ver um mundo colorido.
Agora olho para os lados e vejo um mundo cinza,
pois estou sem você.
Só contigo enxergo felicidade,
na carícia das manhãs,
no feixe de luz,
no chacoalhar das águas,
no som dos pardais.

Por isso o medo.
Quero de volta minha felicidade solitária!
Roubaste de mim a coisa mais preciosa...
Agora jaz meu corpo sobre o catre;
E a ressurreição já não vem mais com a escrita...
Estou pobre, enfermo, triste.

O seu sorriso me nocauteia,
Seus olhos me cegam,
e sua voz me ensurdece.
Você me fez um ser infeliz...

Não sei se te amo, não sei se te odeio...


Mas se você estivesse aqui...

Mas se seu corpo e sua alma estivessem aqui comigo...

Bastaria um só beijo, um olhar apaixonado!
Seria o fim de mim mesmo

e o começo de uma história linda de amor (a dois).

(E o fim do amor solitário (de si))


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Arquiteto

Eu projeto. Visualizo, somo, meço. E Peço. Com vigor, peço que se cumpra, minha querida. Sou um funcionário assíduo, de cartão magnético, cabelos compridos e negros, fisionomia latina. Acima do peso...Atraente? Acredito que não. Bato o ponto e vejo se não me atrasei. Não, não me atrasei! Portanto é hora de medir, pedir, somar, dividir e visualizar, tudo novamente. Na mente desenho com empenho o que virá. De todas as cores são os amores que se vão. Num pensamento à jato, projeto você na minha vida. E sinto tremores, arrepios, calafrios, sabores. Lábio à lábio sinto e saboreio. Sacio o desejo do beijo. E penso, penso, penso. Construo andares acima de todos os lares. O meu amor é Babel. O meu amor é angelical. Voo contigo, Eva, no Éden imaginado. Nado por todos os mares, atravesso desertos contigo, só contigo, minha miragem. Disparamos no universo, por entre galáxias, estrelas anãs, estrelas gigantes; cruzamos o tempo, alternamos realidades. Somos um só, somos nós, ou apenas somos. Nos subdividimos em matéria negativa, positiva, neutra. E voltamos. Volto à projeção. Seu sorriso, a xícara de café. O sorvete derretido na sua boca...A dança e o bolo de avelã. O balançar da rede, a sede, a fome. O vinho e eu. O uísque e eu. Eu e você. Saboreamos as delícias de uma paixão arrebatadora. Quero te matar, quero morrer ou quero que você me mate. Sou Ulisses, Romeu, ou qualquer personagem de Shakespeare ou de Goethe. E você é a sétima camada dantesca. Rabisco paisagens, cenas, beijos, abraços. Com a régua traço uma linha; esqueço-a e faço uma curva, um círculo, um coração. E a música! Ah, a música! Uma sinfonia divina tocada por harpas celestes... O sopro do vento, o assombro das pessoas. Os transeuntes observando. O mundo pára. Apago o mundo. Nada mais existe além de nós. Só, olhando para a folha branca, amasso-a. Apago a luz. Continuo a projetar nossa vida nos meus sonhos. Então é melhor dormir, porque amanhã tenho outro dia de trabalho e essa rotina toda se reinicia...