quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Olympos Bar

A neblina trazia-me certa paz. Meia noite era um horário que eu realmente gostava. Ouvi os sinos da Igreja e atravessei a praça. Virei na rua da esquerda. Era um declive. A placa luminosa do local chamava atenção: Olympos Bar.

Garçom - Boa noite!

Leandro - Boa noite! Desce um Highland Park, por favor!

Garçom - É pra já!

Fez sinal com o dedo indicador, perguntando se eu queria uma pedra de gelo. Balancei a cabeça e pisquei, confirmando.

Olhei em volta e do meu lado dois sujeitos conversavam. Não hesitei, abri meus ouvidos para escutar.

Sujeito do terno Preto - Pois é isso, não sei o que faço com o Gabriel!

Sujeito do terno Branco - Ele logo aceita o destino dele. (fez isso e saboreou seu vinho tinto uruguaio, provavelmente um Tannat).

Os dois perceberam que eu ouvia o papo e me cumprimentaram.

Sujeito do terno Preto e Sujeito do terno Branco - Boa noite!

Leandro - Boa noite!

Sujeito do terno Branco - Você é o Leandro, não é? É um exemplo de vida. Muita gente comenta sobre você.

Leandro - Como sabe?

Jesus - Pode me chamar de Jesus. O cordeiro de Deus, seu criador. Prazer!

Olhei um pouco espantado.

Lúcifer - E eu sou Lux, ou Lúcifer. O diabo, cramunhão, entre outros nomes populares. Meu pessoal também tem falado muito de você...

Leandro - Poxa, que honra encontrar vocês dois! O que me contam?

Jesus - Estava aqui pensando com o Lulu sobre nosso camarada Gabriel. Ele anda meio perturbado. Um dia se diz anjo do bem, no outro anjo do mal. Não sabe de qual lado quer ficar.

Lúcifer - Eu queria muito que ele ficasse do meu lado, mas o Gabi vive querendo praticar boas ações...

Leandro - Entendo. Mas todo mundo é assim, não? Todos estão divididos entre o bem e o mal.

Jesus - Isso é verdade! Principalmente com seres humanos. A gente que é celestial ainda tem noção das coisas, mas vocês estão sempre perdidos.

Nisso aparece na porta uma figura curiosa. Bigodão saliente, meia careca, olhos nervosos.

Lúcifer - Nietzsche!!

Nietzsche - Olá! Lulu, Emanuel! Quanto tempo!

Jesus - Pois é! A gente precisa botar o papo em dia. Como andam as coisas na nova dimensão?

Nietzsche - Perfeitas! Agora estou trabalhando na análise de textos filosóficos dos reptilianos. Voltaire tem me ajudado muito. O problema é aguentar a chatice do Rousseau, com seus dramas existenciais. Se não fosse o Diderot pra alegrar todo mundo, não sei o que seria do nosso grupo.

Lúcifer - Interessante... Eles deixaram saudade.

Nietzsche virou-se para mim

- Boa noite!

Leandro - Boa noite! Eu sou o Leandro.

Nietzsche - Ah, já ouvi falar de você! Como andam as coisas?

Leandro - As mesmas de sempre. Vivendo, enquanto houver vida que valha a pena.

Nietzsche - Sei como é! Já passei por essa fase. Você ainda é jovem, vai saber como enfrentar isso.

De repente apareceram mais três sujeitos. Sorriram e se aproximaram da gente.

Jesus - Marx, Maomé, Buda!

Marx - Olá senhores!

Maomé - Noite linda essa.

Buda - E não passaram da 1h da manhã ainda...

Fiquei apenas observando o papo daqueles ilustres senhores.

Jesus - Estamos aqui faz algum tempo falando abobrinha. E vocês, o que têm feito?

Marx - Eu e Engels temos trabalhado no departamento de anjos anticapitalistas. Recrutando voluntários e tal.

Lúcifer - Ah, eu sei! Eles vêm pra Terra de vez em quando. Dão trabalho pra mim...

Marx - Estou sabendo disso! hehe! Mas é nosso trabalho.

Lúcifer - Claro!

Buda - Eu tenho me reunido com Gandhi. A gente tá pensando em dar aula de interiorização para o povo da realidade alternativa.

Jesus - Hummmm... O legal de lá é que tudo é imprevisível, até pra mim!

Buda - Verdade!

Jesus - E você Maomé, como está?

Maomé - Tenho visitado alguns planetas na borda do Universo. Gosto de conhecer outras culturas. Meu cavalo adora fazer viagens longas... Voar rápido pra ele é um grande prazer.

Lúcifer - Alguém aqui sabe por onde anda Zeus?

Jesus - Você não ficou sabendo que ele tem criado outros planetas por aí?

Lúcifer - Não fiquei sabendo.

Jesus - É, ele adora bancar o arquiteto de universos.

Lúcifer - Zezé é uma figura.

Eu estava maravilhado com aquelas conversas. Nunca tinha sentado numa mesa com pessoas tão interessantes. Nisso, Nietzsche chamou o garçom. Ele se aproximou da mesa.

Nietzsche - Qual banda vai tocar hoje?

Garçom - É um trio muito especial. Vocês já ouviram falar do Nevermind the Sun?

Jesus - Adoro! Eles vão começar a tocar a que horas?

Garçom - Agora mesmo!

Olhei para o palco e vi se ajeitarem nele Kurt Cobain, John Lennon e Elvis Presley.

Aquela noite foi inesquecível. A neblina ficou ainda mais forte no resto da madrugada. Às cinco da manhã, me despedi do pessoal que estava na mesa, paguei a conta, arrumei meu casaco e saí.

Ao dobrar a rua, avistei um gato preto com olhos fumegantes. Olhei pra ele e sorri. Ele retribuiu o gesto. Continuei até o fim da rua e sumi na neblina.

2 comentários:

Samira Baião e Mucci disse...

Você esqueceu de citar Samira Baião, tsc!
AUHAUHAUAHUAHUAH

Deb disse...

UHAUAHUAHUAHA boa Sula!

isso foi um sonho, uma viagem ou uma visita ao inferno?

tá nem foi engraçado :D

bjs!