sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O que acontece quando o amor acaba?



Você pode ser muito cético. Borboletas voando ao seu redor, brisa do mar, céu azul, ou estrelado, ou só o lusco-fusco, ou só o branco da neve, ou nada, e você nem aí. O que enxerga são estruturas. Cada sala é uma ante-sala para outro cômodo. A vida é vivida entre essas paredes. Você pode ser cético e cego para essas belezas. Porém, quando chega o amor... Ah, suspiros, soluços, bochechas ruborizadas, flashbacks dos encontros, projeções do futuro a dois, injeções de ânimo diário; sorrisos instantâneos ao saborear o gole de café. É o amor. Troca de olhares, carinho, cinema. Mãos dadas, bocas dadas, almas dadas e lavadas. Afagos, sossegos, sonetos solitários. Um solo seco é semeado; fertiliza-se. Visualizam-se frutos, árvores, jardins. Cuida-se desses jardins imensos. Rega-se dia após dia. O afeto contínuo do cotidiano. Visualizam-se a velhice, as virtudes de toda uma vida, as feridas. Cobrem-se as cicatrizes; atrozes cicatrizes.

Então, num belo dia - ou não tão belo assim - o amor acaba. Todo aquele esplendor se desmancha, se ofusca. O jardim se seca. As cachoeiras secam. Os pássaros e as borboletas somem. Os sorrisos se fecham, assim como as portas... Assim como as almas. Por algum tempo, vive-se num mundo cinza, monocromático. Tornamo-nos lobos sedentos, raivosos, asquerosos. É a transição. Não somos fáceis nesses momentos. Ficamos frágeis. Somos de vidro. Quebramos com um simples toque. Quanto maior a estatura do amor que desmoronou, maiores os efeitos da queda. E você pode cair com tanta força que o impacto é capaz de criar uma cratera, que te engole. Não tem como sair dela sem se esgotar. Mas você sai.

E surge um novo amor. Num relampejo, aparece o arco-íris. Renascem as flores no seu jardim. E o sorriso ao saborear o café quentinho ao tocar os lábios. O céu fica azul. As borboletas ressurgem, com as amigas andorinhas, com o cheiro da brisa do mar, com as luzes, a felicidade.

E some o abismo, some o sofrimento, secam-se as lágrimas. Fica só você e você, ao olhar para o espelho e reverenciar uma nova manhã. Encara-se. Observa-se. O reflexo faz o mesmo, óbvio. Na mente somente uma certeza: é muito bom amar a si mesmo. Você se ama. É completo em si.

Até que num belo dia - esse é belo ? - encontra um novo amor.

Um amor pelo outro.

Dará certo dessa vez?

Na dúvida, não traia aquele que está do outro lado do espelho.

Um comentário:

Fernanda Amábile disse...

com certeza o amor a si mesmo não pode ser destruído tão facilmente quanto poelo outro. É, é melhor continuar se amando, mesmo que se ame a outro.
bjoo
adorei